sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Props p'ra ti, mano Fiódor!

Olá!!! Pois é, ainda mexo!

Tenho a dizer que estou a meio do 3º e último volume (na edição que eu tenho) d' Os Irmãos Karamazov.
Lembro-me de que o primeiro professor de português decente que tive, que me suscitou de facto o interesse que hoje em dia tenho na literatura, foi no 8º ano, tinha eu 13 anos.
Penso que a minha primeira tentativa de ler esta obra sucedeu por volta dos 14 anos e não passei, creio eu, das primeiras 100 páginas. Vejo agora que tal se deveu, claramente, à minha imaturidade literária na altura, pois trata-se de uma das melhores obras que já li até hoje.
Faz-me lembrar bastante, em termos das personagens e um pouco do próprio enredo, as obras do Eça, que, como penso já ter referido, adoro!
A complexidade da história e das personagens, a intriga, as descrições, os monólogos... Tudo, de uma ponta à outra, é absolutamente fascinante! Não tive nem um só momento em que pensasse que gostaria de saltar uma página pois determinada passagem era entediante!
Enfim, quando é genial, é genial e pronto! Aconselho vivamente!

Portanto, dadas as razões acima mencionadas, PROPS P'RO MANO FIÓDOR!

Em fila de espera, para ler já de seguida, encontra-se o Caim... Não é por nenhuma razão em especial, mas já agora quero ver se, realmente, há justificação para tanta confusão!
Pessoalmente, sempre encarei a história do sacrifício exigido ao Abraão como uma das mais "feias" da Bíblia, do pouco que conheço (sim, mais um livro que é inevitável ler mas que vai ter de aguardar um pouquinho na minha fila de espera), bem como a do Caim e do Abel, portanto, à partida, nem estou a perceber muito bem qual o grande choque, mas não me alongo mais antes de, efectivamente, ler o dito...



E pronto, para encerrar este meu regresso (SERÁ???), deixo-vos com mais um génio: Luíz Vaz de Camões, numa das minhas passagens preferidas d'Os Lusíadas, quando o Adamastor relata a sua história, Cap.V, 56 a 60:


56
Oh que não sei de nojo como o conte!
Que, crendo ter nos braços quem amava,
Abraçado me achei cum duro monte
De áspero mato e de espessura brava.
Estando cum penedo fronte a fronte,
Qu'eu polo rosto angélico apertava,
Não fiquei homem, não; mas mudo e quedo
E, junto dum penedo, outro penedo!

57
Ó Ninfa, a mais formosa do Oceano,
Já que minha presença não te agrada,
Que te custava ter-me neste engano,
Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada?
Daqui me parto, irado e quasi insano
Da mágoa e da desonra ali passada,
A buscar outro mundo, onde não visse
Quem de meu pranto e de meu mal se risse.

58
Eram já neste tempo meus Irmãos
Vencidos e em miséria extrema postos,
E, por mais segurar-se os Deuses vãos,
Alguns a vários montes sotopostos.
E, como contra o Céu não valem mãos,
Eu, que chorando andava meus desgostos,
Comecei a sentir do Fado imigo,
Por meus atrevimentos, o castigo:

59
Converte-se-me a carne em terra dura;
Em penedos os ossos se fizeram;
Estes membros que vês, e esta figura,
Por estas longas águas se estenderam.
Enfim, minha grandíssima estatura
Neste remoto Cabo converteram
Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas,
Me anda Tétis cercando destas águas.»

60
Assim contava; e, cum medonho choro,
Súbito d' ante os olhos se apartou;
Desfez-se a nuvem negra, e cum sonoro
Bramido muito longe o mar soou.
Eu, levantando as mãos ao santo coro
Dos Anjos, que tão longe nos guiou,
A Deus pedi que removesse os duros
Casos, que Adamastor contou futuros.


Até à próxima e boas leituras!