Adiante. Terminada a Guerra e Paz, seguiu-se O Mandarim, de Eça de Queiroz, recomendado pelo meu irmão a propósito do filme The Box.
Matando dois coelhos... Hmmm... Deixemos os coelhos em paz... Aproveitando para comentar ambos, começo pelo filme, que vi primeiro.
Não é um filme extraordinário, chegando mesmo a ser um pouco previsível deixando, simultâneamente, algumas pontas soltas, mas é uma história engraçada e um bom thriller para quem se assusta com facilidade. Vê-se bem, mas não há muito a acrescentar...
Passando agora a'O Mandarim: achei bastante interessante, excelente para uma "espécie de pausa" necessária após a leitura da Guerra e Paz, sendo uma novela bastante curta e de leitura fácil (sem necessidade de muita revisão para perceber o enredo). Naturalmente, não faltam as críticas sociais, as lições de moral ironizadas e as personagens caricaturalmente revoltadas do Eça, mas sendo uma obra tão curta fica a faltar aquela descrição detalhada que se vai construindo, normalmente, à medida que se avança nas obras deste grande autor, e que nos fazem esperar encontrar, subitamente, alguma das personagens no nosso grupo de amigos quando vamos sair, ou passar por algum dos cenários a caminho do trabalho...
Em conclusão, a familiarização que nos fica a faltar com a obra em relação a outras do mesmo autor, "deve-se ao" e, de certa forma, "é compensada pelo" facto de se tratar de uma obra muito curta, mas que, ainda assim, nos deixa plenamente satisfeitos com a história... Se nos fica a sensação de que falta algo, é apenas porque o Eça nos habituou mal!
Fica então um excerto para abrir o apetite...
"(…) Aos domingos repousava: instalava-me então no canapé da sala de jantar, de cachimbo nos dentes, e admirava a D. Augusta, que, em dias de missa, costumava limpar com clara de ovo a caspa do tenente Couceiro. Esta hora, sobretudo no Verão, era deliciosa: pelas janelas meio cerradas penetrava o bafa da soalheira, algum repique distante dos sinos da Conceição Nova e o arrulhar das rolas na varanda; a monótona sussurração das moscas balançava-se sobre a velha cambraia, antigo véu nupcial da Madame Marques, que cobria agora no aparador os pratos de cerejas bicais; pouco a pouco o tenente, envolvido, num lençol como um ídolo no seu manto, ia adormecendo, sob a fricção mole das carinhosas mãos da D. Augusta; e ela, arrebitando o dedo mínimo branquinho e papudo, sulcava-lhe as repas lustrosas com o pentezinho dos bichos…(…)"
- — O Mandarim (1880)
Boas leituras!
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