terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mais dois em um!

Para não variar, as ausência são sempre suficientemente prolongadas para ler mais do que um livro... Sigamos então para o primeiro...
Como tinha dito, comecei o Era Bom que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto sem saber o que me esperava porque nunca tinha lido nada do Mário de Carvalho antes e fiquei agradavelmente surpreendida.
Adorei o livro e a forma de escrever do autor. É uma história de acontecimentos triviais e da forma como estes se reflectem nas nossas vidas. Dá-nos uma visão exterior da história de várias pessoas, cada qual com os seus assuntos, problemas, fantasmas e da forma como estes factores afectam os próprios e os que os rodeiam, fazendo notar como uma pequena contrariedade pode assumir na nossa vida um papel mais determinante que uma verdadeira catástrofe, desde que seja essa essa a forma como "decidimos" olhar para a mesma.
A vontade que temos de ver algo de extremamente dramático acontecer a umas personagens e de fabuloso a outras, perde-se nas palavras sarcásticas que nos lembram de que o texto é sobre personagens que poderiam ser reais, sobre o dia a dia, sobre, lá está, trivialidades! Ler esta obra, dá-nos uma constante sensação de que estamos na mesa de um café, com uma imperial e um prato de tremoços, em amena cavaqueira com o autor (alguém bem falante e com um sentido de humor muito particular), que nos conta assim uma sucessão de histórias que aconteceram com uns seus conhecidos. Gostei e recomendo!

Depois deste, arrisquei mais um autor que não conhecia, João Tordo, com a obra As Três Vidas, galardoada com o Prémio José Saramago em 2009.


Este romance não me "disse" tanto como o anterior. É um livro bem escrito, com clareza e fácil de entender. A história é interessante mas começa por prometer mais do que o que acaba por oferecer. Cria-se personagens com muito potencial para depois aproveitar pouco deste e o mesmo acontece em relação à história em si.
Em termos da escrita, prima pela correcção mas falta-lhe, na minha opinião, personalidade, o que não é de surpreender considerando a idade do autor.
Em jeito de conclusão, fica como sugestão a leitura desta obra numa ocasião em que não se tenha vontade de ler algo muito pesado mas sim de estar entretido.

Por fim, não poderia deixar-vos sem o momento de cultura, não é...? Então cá vai, em honra à minha 3ª tentativa (a decorrer neste momento) de ler o Livro do Desassossego.

Dobre
Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão

Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.

Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;

Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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