terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mais dois em um!

Para não variar, as ausência são sempre suficientemente prolongadas para ler mais do que um livro... Sigamos então para o primeiro...
Como tinha dito, comecei o Era Bom que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto sem saber o que me esperava porque nunca tinha lido nada do Mário de Carvalho antes e fiquei agradavelmente surpreendida.
Adorei o livro e a forma de escrever do autor. É uma história de acontecimentos triviais e da forma como estes se reflectem nas nossas vidas. Dá-nos uma visão exterior da história de várias pessoas, cada qual com os seus assuntos, problemas, fantasmas e da forma como estes factores afectam os próprios e os que os rodeiam, fazendo notar como uma pequena contrariedade pode assumir na nossa vida um papel mais determinante que uma verdadeira catástrofe, desde que seja essa essa a forma como "decidimos" olhar para a mesma.
A vontade que temos de ver algo de extremamente dramático acontecer a umas personagens e de fabuloso a outras, perde-se nas palavras sarcásticas que nos lembram de que o texto é sobre personagens que poderiam ser reais, sobre o dia a dia, sobre, lá está, trivialidades! Ler esta obra, dá-nos uma constante sensação de que estamos na mesa de um café, com uma imperial e um prato de tremoços, em amena cavaqueira com o autor (alguém bem falante e com um sentido de humor muito particular), que nos conta assim uma sucessão de histórias que aconteceram com uns seus conhecidos. Gostei e recomendo!

Depois deste, arrisquei mais um autor que não conhecia, João Tordo, com a obra As Três Vidas, galardoada com o Prémio José Saramago em 2009.


Este romance não me "disse" tanto como o anterior. É um livro bem escrito, com clareza e fácil de entender. A história é interessante mas começa por prometer mais do que o que acaba por oferecer. Cria-se personagens com muito potencial para depois aproveitar pouco deste e o mesmo acontece em relação à história em si.
Em termos da escrita, prima pela correcção mas falta-lhe, na minha opinião, personalidade, o que não é de surpreender considerando a idade do autor.
Em jeito de conclusão, fica como sugestão a leitura desta obra numa ocasião em que não se tenha vontade de ler algo muito pesado mas sim de estar entretido.

Por fim, não poderia deixar-vos sem o momento de cultura, não é...? Então cá vai, em honra à minha 3ª tentativa (a decorrer neste momento) de ler o Livro do Desassossego.

Dobre
Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão

Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.

Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;

Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A minha vida dava um... blog?



Uma palavrinha para as autoras de "blogs cor-de-rosa":

Uma vez que a Margarida Rebelo Pinto consegue ver os seus livros publicados, não me choca nada que estes blogs também o sejam... Ao fim e ao cabo, não são mais nem menos!
O que me choca, isso sim, é a revolta contra a invasão de privacidade da parte de pessoas que decidem tornar públicas as suas vidas.
Sempre que se trate de crime, que se faça queixa à polícia que é o que todas as "figuras públicas" fazem, quando se trata de mera "cusquice" e intromissão através de comentários (positivos ou negativos), por favor, chega do papel de coitadinhas rodeadas de frustrados que vivem a vida através delas... Não gostam? Cá vai uma sugestão barata e de fácil implementação: um diário! Também há a hipótese de escrever num documento (word, por exemplo) e limitar-se a guardá-lo no computador sem o publicar na internet...

Sinceramente, a mim não me afecta muito porque a minha breve passagem por este tipo de blogs foi rapidamente seguida por um enjoo que não vai permitir que me aproxime deles por um bom tempo, mas a auto-comiseração combinada com pedantismo tem a particularidade de me irritar como poucas coisas, por isso decidi deixar uma palavrinha...

Deixo-vos com um belo soneto... Muahahaha

Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores ;
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade;
Que elas buscam piedade, e não louvores;

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores ;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores ;

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.

Bocage - Sonetos I

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dois em um...

Cá estou eu de novo, para deleite dos meus leitores imaginários!

E pronto, mais um que foi e pertence ao passado Assim Falava Zaratustra! Falava e falava muito bem mas, na minha humilde opinião, não dizia grande coisa! Esta afirmação pode parecer pedante da minha parte, mas a verdade é que não foi um livro de onde tenha tirado grande lição... Ou mesmo grande prazer...
Lê-se bem, ao contrário do que me tinha sido dito, não é particularmente complicado de entender nem de seguir...
Gostei do simbolismo, tanto das personagens como do discurso no geral, que fazia levantar algumas questões interessantes mas nada que me tivesse deixado a pensar muito tempo, pois há uma grande incidência em simples considerações morais que todos nós nos colocamos de vez em quando, mas escritas de uma forma mais "codificada"...
Não estou fascinada... Mas como também andava entusiasta demais com as últimas leituras, até foi bom que já parecia que qualquer coisa me deleitava!

Entretanto, e como seria de esperar considerando a duração da minha ausência, comecei e terminei também O Príncipe, de Nicolau Maquiavel. Foi uma leitura bastante interessante, contrariamente ao que eu esperaria à partida. Literariamente simples, quase como um manual, com referências históricas interessantes e uma exposição de ideias claras e bem fundamentadas. Não é o meu estilo de livro, mas foi uma incursão interessante num estilo diferente.



Comecei, entretanto, a ler o Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto, de Mário de Carvalho e estou a gostar imenso da escrita. É a primeira obra que leio deste autor, pelo que não me vou alongar muito mais mas tem, de facto, uma forma de escrever muito interessante!




Por último, não podendo deixar passar em branco a data de hoje, fica uma lembrança de uma grande senhora que nos deixou há precisamente 40 anos: Janis Joplin! Long live Janis!

Fica a letra e um vídeo de uma música que adoro: "Get it while you can"

Get it while you can

In this world, if you read the papers, Lord,
You know everybody’s fighting on with each other.
You got no one you can count on, baby,
Not even your own brother.
So if someone comes along,
He’s gonna give you some love and affection
I’d say get it while you can, yeah!
Honey, get it while you can,
Hey, hey, get it while you can,
Don’t you turn your back on love, no, no!

Don’t you know when you’re loving anybody, baby,
You’re taking a gamble on a little sorrow,
But then who cares, baby,
‘Cause we may not be here tomorrow, no.
And if anybody should come along,
He gonna give you any love and affection,
I’d say get it while you can, yeah!
Hey, hey, get it while you can,
Hey, hey, get it while you can.
Don’t you turn your back on love,
No no no, no no no no no.

Oh, get it while you can,
Honey get it when you’re gonna wanna need it dear, yeah yeah,
Hey hey, get it while you can,
Don’t you turn your back on love,
No no no, no no no no, get it while you can,
I said hold on to somebody when you get a little lonely, dear,
Hey hey, hold on to that man’s heart,
Yeah, get it, want it, hold it, need it,
Get it, want it, need it, hold it,
Get it while you can, yeah,
Honey get it while you can, baby, yeah,
Hey hey, get it while you can!

 

Boa noite e boas leituras!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Deus está morto!

Pois é, como já deve ter dado para perceber, comecei o Assim Falava Zaratustra, e começa já a parecer-me muito interessante! Como vou apenas nas primeiras páginas, não me vou alongar mais... Cada coisa a seu tempo.
Findo o Memorial do Convento, posso dizer que gostei bastante. Não foi obra que me fascinasse, isso não, gostei mais de outras de Saramago, mas é interessante e recomendável. Gostei especialmente das personagens (mais até que da história central), que me pareceram dotadas de uma grande originalidade.
O que não pode nunca ser ignorado e também nunca desilude é a escrita, neste aspecto adorei, como sempre!

Por agora, é tudo... Está-me a apetecer um bocadinho de Álvaro de Campos, e a vocês?



Poema em linha recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos


Um bom dia (6ª feira é sempre um bom dia!) e boas leituras!

R.I.P. António Feio



António Jorge Peres Feio  (6/12/1954-29/7/2010)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Encontrado o sucessor...

Alguém terá por aí o número dos "Compradores de Livros Anónimos"?
Não me consigo controlar... Estou perto do fim do Memorial do Convento, como tinha dito, e desta vez estava mesmo convencida que se seguiria um dos muitos livros que tenho em casa ainda por ler, mas.... Nãããããoooo........... Vi o Assim Falava Zaratustra de Friedrich Nietzsche, hoje de manhã, da colecção do Público, baratinho e pronto... Já cá mora! Será o próximo...



Um pequeno aparte, uma vez que este nosso pequeno cantinho da Europa nunca deixa de me surpreender... Um passo para a frente é sempre seguido por dois para trás... Por favor leiam a notícia da TSF e digam-me qual a resposta certa em respeito ao comentário que a Ministra da Saúde fez quando interrogada acerca da manutenção da questão acerca da orientação sexual do dador no questionário de triagem:

a) eu estou demente e não consigo perceber a ligação entre a questão levantada e o que ela disse;
b) perguntaram-lhe qualquer coisa completamente diferente daquilo que a notícia sugere;
c) a ministra está com um grave problema auditivo;
d) a ministra está senil.

Fica a questão no ar... E tenho uma teoria: a ministra está senil e pensa que o povo português é constituido por crianças de cinco anos que acreditam no Pai Natal e na Fada dos Dentes.

Deixo-vos com dois grandes senhores: Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, que assim escreveram em 1877, n'As Farpas - Parábola dos Almocreves, cuja leitura integral aconselho, seguindo o link:


"Em Portugal o que succede?

A vida intellectual é extremamente debil. A sciencia não tem cultores desinteressados e ardentes, a acção da arte sobre a aspiração dos espiritos é nulla.

O resultado é que os partidos de opposição, não encontrando nos phenomenos da vida nacional a profunda expressão implacavel de novas necessidades a que os governos tenham de amoldar-se, acham-se naturalmente desarmados das grandes rasões que reptam os governos a progredir ou a abdicar.

Em taes condições o partido revolucionario dentro da milicia politica, partido fabricado pelos proprios governos com a corrupção do suffragio,- sendo uma pura convenção, uma fixão constitucional, uma expressão rhetorica, sem raizes na consciencia e na vontade popular,-acabou por desapparecer inteiramente do nosso systema representativo. Ha muitos annos que a revolução não tem quem a represente no parlamento portuguez.

Ha, todavia, uma maioria parlamentar e uma opposição composta de varios grupos dissidentes. Estes grupos são fragmentos dispersos do unico partido existente - o partido conservador - fragmentos cuja gravitação constitue o organismo do poder legislativo.

Estes partidos, todos conservadores, não tendo principios proprios nem idéas fundamentaes que os distingam uns dos outros, sendo absolutamente indifferente para a ordem e para o progresso que governe um d'elles ou que governe qualquer dos outros, conchavaram-se todos e resolveram de commum accordo revesarem-se no podler e governarem alternadamente segundo o lado para que as despesas da rhetorica nos debates ou a força da corrupção na urna fizesse pesar a balança da regia escolha. Tal é o espectaculo recreativo que ha vinte annos nos esta dando a representação nacional."

Hoje apetece-me também deixar banda sonora... Por isso aqui fica algo que me perseguiu durante o dia e só agora consegui ouvir:



Boas noites e boas leituras!

domingo, 25 de julho de 2010

O essencial é invisível para os olhos...

É verdade... Sou um daqueles animais raros que aos 28 (quase 29) anos, nunca tinha lido O Principezinho. Agora, finalmente, graças a uma grande amiga, saí do grupo daqueles que ainda não aprenderam (ou já esqueceram) algumas das lições mais importantes da vida.
Não me vou pôr a tecer comentários acerca da escrita, da história, das personagens... Seria uma perda de tempo. Aquilo que é realmente importante retirar desta leitura são os momentos em que, durante a mesma, nos vimos reflectidos nos adultos aborrecidos que vão aparecendo e como gostaríamos de recordar o tempo em que nos veríamos reflectidos no Principezinho. É igualmente importante lembrar que o conhecimento recente não deve ser sobreposto ao antigo, mas sim adicionado... Falando por mim, fiz esta substituição a tal ponto que todas as lições ensinadas nesta obra me pareceram novas... Mas sei que nalgum momento foi assim que encarei a vida, foi assim que encarei o mundo...
CV, muito obrigada por me fazeres recordar! Nem todos os dias se conhece alguém que ache importante preencher os espaços em branco dos outros, desde o primeiro encontro... "Props sis!"


Será, provavelmente, das obras mais citadas de sempre, mas não poderia deixar de o fazer como tanto outros antes de mim... Fica então um excerto do encontro do Principezinho com a Raposa.

"C'est alors qu'apparut le renard.
-Bonjour, dit le renard. ..
-Bonjour, répondit poliment le petit prince, qui se retourna mais ne vit rien.
-Je suis là, dit la voix, sous le pommier.
-Qui es-tu ? dit le petit prince. Tu es bien joli..
-Je suis un renard, dit le renard.
Viens jouer avec moi, lui proposa le petit prince. Je suis tellement triste...
-Je ne puis pas jouer avec toi, dit le renard. Je ne suis pas apprivoisé
-Ah ! pardon, Et Je petit prince.
Mais, après réflexion, il ajouta:
-Qu'est ce que signifie « apprivoiser » ?
-Tu fi es pas d'ici, dit le renard, que cherches-tu!
-Je cherche les hommes, dit le petit prince. Qu'est-ce que signifie « apprivoiser » ?
-Les hommes, dit le renard, ils ont des fusils et ils chassent. C'est bien gênant! Ils élèvent aussi des poules. C'est leur seul intérêt. Tu cherches des poules ?
-Non, dit le petit prince. Je cherche des amis. Qu'est-ce que signifie « apprivoiser »?
-C'est une chose trop oubliée, dit le renard. Ça signifie « créer des liens... »
-Créer des liens ?
-Bien sûr, dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons.
Et je n' ai pas besoin de toi. Et tu n'a pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde...
-Je commence à comprendre, dit le petit prince. Il y a une fleur... je crois qu'elle m'a apprivoisé...
-C'est possible, dit le renard. On voit sur la Terre toutes sortes de choses.
-Oh! ce n'est pas sur la Terre, dit le petit prince. Le renard parut très intrigué:
-Sur une autre planète ?
-Oui.
-Il y a des chasseurs, sur cette planète-là ?
-Non.
-Ça, c'est intéressant! Et des poules ?
-Non.
-Rien n'est parfait, soupira le renard.
Mais le renard revint à son idée:
-Ma vie est monotone. Je chasse les poules, les hommes me chassent. Toutes les poules se ressemblent, et tous les hommes se ressemblent. Je m'ennuie donc un peu. Mais, si tu m'apprivoises, ma vie sera comme ensoleillée. Je connaîtrai un bruit de pas qui sera différent de tous les autres. Les autres pas me font rentrer sous terre. Le tien m'appellera hors du terrier, comme une musique. Et puis regarde! Tu vois, là-bas, les champs de blé ? Je ne mange pas de pain. Le blé pour moi est inutile. Les champs de blé ne me rappellent rien. Et ça, c'est triste! Mais tu as des cheveux couleur d'or. Alors ce sera merveilleux quand tu m'auras apprivoisé! Le blé, qui est doré, me fera souvenir de toi. Et j'aimerai le bruit du vent dans le blé..."

Le Petit Prince, capítulo XXI 

Como combinado, vou revelar também o que ando a ler agora... Algo que também me andava a faltar, uma vez que tanta gente leu no secundário e eu nunca tinha lido: Memorial do Convento de José Saramago.

Não comecei a ler esta obra a propósito da morte do autor, já estava programada. Gostaria ainda assim de fazer referência ao quanto lamento esta enorme perda para Literatura. Recuso-me a entrar nas discussões mesquinhas acerca da vida do "Saramago homem", pois não é esse que conheço nem do qual vou sentir falta e quanto ao "Saramago autor", não creio haver o que discutir. Goste-se ou não do estilo, goste-se ou não dos temas, é uma gigantesca perda.

Fico-me por aqui por hoje:)

Boas noites e boas leituras!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Mandarim

Que tal? Parece que sacaram os episódios da net e os estão a ver todos seguidos! FEIOS!!! Pirataria é crime! Isto é que é uma gente....

Adiante. Terminada a Guerra e Paz, seguiu-se O Mandarim, de Eça de Queiroz, recomendado pelo meu irmão a propósito do filme The Box.



Matando dois coelhos... Hmmm... Deixemos os coelhos em paz... Aproveitando para comentar ambos, começo pelo filme, que vi primeiro.

Não é um filme extraordinário, chegando mesmo a ser um pouco previsível deixando, simultâneamente, algumas pontas soltas, mas é uma história engraçada e um bom thriller para quem se assusta com facilidade. Vê-se bem, mas não há muito a acrescentar...

Passando agora a'O Mandarim: achei bastante interessante, excelente para uma "espécie de pausa" necessária após a leitura da Guerra e Paz, sendo uma novela bastante curta e de leitura fácil (sem necessidade de muita revisão para perceber o enredo). Naturalmente, não faltam as críticas sociais, as lições de moral ironizadas e as personagens caricaturalmente revoltadas do Eça, mas sendo uma obra tão curta fica a faltar aquela descrição detalhada que se vai construindo, normalmente, à medida que se avança nas obras deste grande autor, e que nos fazem esperar encontrar, subitamente, alguma das personagens no nosso grupo de amigos quando vamos sair, ou passar por algum dos cenários a caminho do trabalho...
Em conclusão, a familiarização que nos fica a faltar com a obra em relação a outras do mesmo autor, "deve-se ao" e, de certa forma, "é compensada pelo" facto de se tratar de uma obra muito curta, mas que, ainda assim, nos deixa plenamente satisfeitos com a história... Se nos fica a sensação de que falta algo, é apenas porque o Eça nos habituou mal!

Fica então um excerto para abrir o apetite...

"(…) Aos domingos repousava: instalava-me então no canapé da sala de jantar, de cachimbo nos dentes, e admirava a D. Augusta, que, em dias de missa, costumava limpar com clara de ovo a caspa do tenente Couceiro. Esta hora, sobretudo no Verão, era deliciosa: pelas janelas meio cerradas penetrava o bafa da soalheira, algum repique distante dos sinos da Conceição Nova e o arrulhar das rolas na varanda; a monótona sussurração das moscas balançava-se sobre a velha cambraia, antigo véu nupcial da Madame Marques, que cobria agora no aparador os pratos de cerejas bicais; pouco a pouco o tenente, envolvido, num lençol como um ídolo no seu manto, ia adormecendo, sob a fricção mole das carinhosas mãos da D. Augusta; e ela, arrebitando o dedo mínimo branquinho e papudo, sulcava-lhe as repas lustrosas com o pentezinho dos bichos…(…)"
O Mandarim (1880)
No próximo "episódio" teremos O Principezinho de Antoine de Saint-Exupéry e a revelação fantástica do que estou a ler agora!!! Não estão ansiosos??? Não? Não me interessa... Vou dizer na mesma! Muahahah

Boas leituras!

Guerra e Paz

Ora cá estou eu... De volta e, como devem calcular pelo tempo que passou, com muito para pôr em dia... No último post, estava a terminar o primeiro volume de Guerra e Paz, ao qual se seguiram os restantes 3 volumes e mesmo um pequeno excerto do filme, que não achei particularmente interessante, mas só poderei realmente opinar quando vir completo.


Em relação ao livro, esse sim, lido e absorvido palavra a palavra, achei merecedor de cada vez que já foi e continuará a ser apelidado de genial. Um verdadeiro clássico.
Desde a intriga dos tempos de Paz às descrições dos tempos de Guerra, desde o enredo às divagações do autor, desde as análises históricas às comparações científicas, tudo demonstra o quanto se está a ler a obra prima de um génio! Não apenas pelo seu talento literário, mas também pelo seu grau de conhecimento em diferentes áreas de estudo, Tolstói demonstra ser um dos escritores mais dignos de ser recordado enquanto a literatura tiver um lugar na vida da humanidade.
Podemos encontrar, especialmente no final do último volume da obra, longas considerações do autor acerca da conjugação de factores perfeitamente aleatórios que dão origem a um grande acontecimento, bem como das diferentes interpretações que esses mesmos factores ou determinada parte deles, terão consoante quem os analisa e quando são analisados. Quando digo "longas", poderão achar que isto será sinónimo de "aborrecidas", o que não é, de todo, verdade se tiverem prazer em ler uma argumentação extremamente bem exposta e fundamentada. Pessoalmente, achei fascinante e enriquecedor!

Uma pequena nota "negativa", que não posso mesmo deixar de fazer, é a forma como são retratadas as personagens femininas... Achei demasiado evidente que estava SEMPRE presente, em qualquer personagem feminina, uma certa nota de futilidade e falta de inteligência, por mais interessante e bem construída que a personagem fosse. É pena. Como foi a primeira obra que li deste autor, não posso desde já assumir que é uma característica do mesmo. Veremos... Anna Karenina está na "lista de espera".

Gostaria de deixar um excerto (desta feita, traduzido, pois tanto eu como a maioria de vós não entende russo o que tornaria difícil, para mim, a selecção e, para vós, a apreciação), mas não tenho comigo, de momento, o que gostaria de deixar. Fica prometido: mais logo cá estará!

Por agora cito apenas o autor:

"Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia."
"Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas."
 "Enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra."
"Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo."
- Lev Tolstói

ADICIONADO:

"Quando uma maçã amadurece e cai da árvore, por que razão é que ela cai? Porque gravita para a terra, porque lhe seca o pedículo, ou porque o sol seca o fruto, ou porque este se torna pesado, ou porque o vento o sacode, ou porque o rapaz debaixo da árvore quer comê-lo?
Nada disso é a causa. Tudo isso é apenas a coincidência das condições em que se produz qualquer acontecimento vital, orgânico e espontâneo. E o botânico que achar que a maçã cai porque o tecido celular se decompõe, e assim por diante, terá tanta razão e não terá razão alguma como o rapaz que, debaixo da árvore, disser que a maçã caíu porque lhe apetecia comê-la e porque rezou para que ela caísse. Da mesma forma, terá e não terá razão aquele que disser que Napoleão avançou para Moscovo porque assim o quis e que fracassou porque Alexandre quis que ele fracassasse; também assim, tem e não tem razão aquele que disser que um monte de um milhão de arrobas socavado caiu porque o último operário lhe deu o último golpe de picareta. Nos acontecimentos históricos, os assim chamados grandes homens são etiquetas que dão o nome ao acontecimento e que, como etiqueta que são, têm um mínimo de ligação com o acontecimento em si.
Qualquer acção deles, por mais voluntária que lhes pareça, no sentido histórico é involuntária e encontra-se em ligação com todo o devir da história, estando determinada desde sempre."

in Guerra e Paz, Livro III, Primeira Parte, Capítulo I

Com tanto para por em dia, não me parece bem ficar tudo junto no mesmo post.... Pelo que ficam as cenas do próximo episódio: O Mandarim, de Eça de Queirós.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Livro vs Filme - Drácula de Bram Stocker

Olá!!!

Primeiro de tudo queria dizer que o primeiro volume do Guerra e Paz está quase, quase no fim e até agora a única dificuldade que me parece que vou ter em ler os quatro volumes é mesmo chegar ao fim e não haver mais... Estou a ADORAR! As personagens, a escrita, a história... Tudo! Por alguma razão os "clássicos" ganham essa denominação.

Passando agora ao título deste post, achei interessante criar uma "secção" para esta discussão, depois de ter escrito o post anterior. Afinal é algo acerca do qual há bastante para falar, certo?

Para o levantar do pano, resolvi escolher o romance de Bram Stoker, Drácula. Para mim, uma das mais fantásticas histórias e amor alguma vez escritas. Já agora, a verdadeira história de Vlad Tepes também é muito interessante, para quem estiver curioso.
Li este romance há uns bons anos, pelo que não consigo lembrar-me detalhadamente de todos os acontecimentos, especialmente depois de ter visto e revisto a adaptação para o cinema que escolhi para lhe fazer frente nesta discussão: Drácula de Bram Stoker, de Francis Ford Coppola.

Este foi, até agora, o único caso de Livro vs Filme em que, para mim, ou estão ao mesmo nível ou chego mesmo a preferir em certa medida o filme.
Do que me lembro do livro, a história é maravilhosa e, como sempre, não é possível incluir tudo nem copiar integralmente uma história destas para um filme. No entanto, a escrita sob a forma de diário torna a leitura um pouco enfadonha em certos momentos da história e penso que este é o grande factor para eu ter preferido, na altura, o filme.
Em compensação, penso que o filme é das melhores adaptações de um romance ao grande ecrã que já vi, pois transfere para imagens o grande detalhe das descrições e consegue fazer reter todos os pormenores realmente marcantes da história, ajudado ainda por um elenco fantástico (apesar de não ser grande fã do Keanu Reeves devo admitir que é dos seus melhores desempenhos) e uma recreação do ambiente inigualável.

Portanto, e ao contrário das espectativas, neste renhido duelo, na minha humilde opinião, sai vencedor o:


E pronto, parece que hoje encerramos por aqui :)

Beijos e boas leituras!!!

PS - Já me esquecia de vos deixar um amuse-bouche para este fantástico repasto!

"He was very pale, and his eyes seemed bulging out as, half in terror and half in amazement, he gazed at a tall, thin man, with a beaky nose and black moustache and pointed beard..."
- Bram Stoker, Chapter 13, Dracula

(shhh... não se diz a ninguém, mas se quiserem ler mais, sigam o link...)

terça-feira, 23 de março de 2010

No País das Maravilhas... DE NOVO!!!

Olá, olá!!!


Pois é! Apercebi-me, entre comentários com várias pessoas (e para quem pensa que estou a falar de si, fiquem sabendo que fiz mais duas ou três confirmações! =P), que muita gente nunca leu a obra de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, apenas seguiu a série de desenhos animados homónima quando criança (que também era fantástica!). Como me apercebi eu disto?? Ao reparar que muita gente não se apercebeu que o filme tratava de um REGRESSO da Alice o País das Maravilhas!


Pois aqui fica o conselho: para quem seguiu os desenhos animados e viu agora o filme do Tim Burton, fica definitivamente a faltar ler a obra! Não percam, vale bem a pena! Se tiverem filhos aproveitem e leiam-no aos vossos filhos, ficando assim ambos a conhecer esta maravilhosa história na sua versão original!


Como não gosto de citar traduções, aqui fica um bocadinho, na versão original, só para abrir o apetite!

"Cheshire Puss," she began, rather timidly, as she did not at all know whether it would like the name: however, it only grinned a little wider. "Come, it's pleased so far," thought Alice, and she went on. "Would you tell me, please, which way I ought to go from here?"
"That depends a good deal on where you want to get to," said the Cat.
"I don't much care where--" said Alice.
"Then it doesn't matter which way you go," said the Cat.
"--so long as I get somewhere," Alice added as an explanation.
"Oh, you're sure to do that," said the Cat, "if you only walk long enough."
Alice felt that this could not be denied, so she tried another question. "What sort of people live about here?"
"In that direction," the Cat said, waving its right paw round, "lives a Hatter: and in that direction," waving the other paw, "lives a March Hare. Visit either you like: they're both mad."
"But I don't want to go among mad people," Alice remarked.
"Oh, you can't help that," said the Cat: "we're all mad here. I'm mad. You're mad."
"How do you know I'm mad?" said Alice.
"You must be," said the Cat, "or you wouldn't have come here."


in Alice in Wonderland, by Lewis Carroll

Um bom dia e boas leituras!!!

quarta-feira, 17 de março de 2010

District 9...



Mas que raio... O que é que.... Hã?!?!?!

Estou a cerca de 20 minutos do fim mas... HÃ?????

Sim, é um conceito diferente... Mas agora a sério, não gostei muito... Camarões prefiro os mais rosadinhos...

Adiante... não me vou pôr a falar mal de um filme que tem 8.3 no IMDB que ainda me arrisco a ser eu que não percebo nada disto e quando não se sabe mais vale estar calado!

Só queria mesmo exprimir a minha... hmmm... surpresa! hehehe

Tomem lá um "bitaite" do nosso intemporal amigo Eça, para não dizerem que não escrevi nada de produtivo:

"O que são há 20 anos os partidos em Portugal? Que pensamento traduzem? Que grande facto social querem realizar? Formam-se, desagregam-se, dissolvem-se, passam, esquecem, sem que deles fique uma edificação aceitável, uma criação fecunda. Estabelecem patronatos, constróem filiações, arregimentam homens e braços trabalhadores, preparam terreno e solo robusto, onde eles possam sem embaraço tomar as livres atitudes do aparato e da vaidade reluzente. Nada mais fazem. Nascem infecundamente, morrem esterilmente."- in "O Distrito de Évora", 14 de Fevereiro de 1867 (nº11)

É que não falha! INTEMPORAL!!!

Até à próxima e boas leituras :))

sexta-feira, 12 de março de 2010

Mais um regresso...

Bem, parece que não foi mesmo daquela! Será que desta é que é? Quem sabe! heheh

Então, passando ao que interessa... Estive ausente do Blog mas não das leituras e espero que vocês também não! Durante a minha "prolongada" ausência lá tive tempo para devorar mais uns quantos livrinhos... Uns geniais e outros mais banais, mas que uma pessoa não consegue evitar! heheh Segue a "listinha" :)

Primeiro, terminei os Os Irmãos Karamazov, naturalmente. Não me vou alongar mais sobre o livro pois mantenho tudo o que tinha dito no post anterior e o fim apenas enfatizou tudo o que senti em relação a esta obra fantástica!

Depois veio então o Caím e, tal como eu já suspeitava, na minha opinião, fez-se uma tempestade num copo d'água! O livro é bastante interessante, "leve", arranca umas boas gargalhadas com certas passagens, está muito bem escrito (grande novidade...) e a única coisa de "escandaloso" acerca dele é o facto de ironizar (nalguns casos arriscaria dizer apenas: brincar) com assuntos que, para uma considerável percentagem da população, "Não se brinca!"... Pois para mim foi bastante agradável e recomendo a qualquer pessoa que não seja crente ou não tenha problemas em rir-se de si própria e das suas crenças! Porque, desculpem-me os mais susceptiveis, mas anjos que chegam atrasados porque tiveram problemas com uma asa.... IMPAGÁVEL!

Depois do Caím e por mero acaso (tinha almoço combinado com a A. pelo que não tinha nenhum livro para ler à hora de almoço mas a A. cancelou, portanto, tive de ir a correr comprar um!) seguiu-se o Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar do António Lobo Antunes  pois já havia algum tempo que não lia nada deste autor que é um dos meus preferidos.


Como sempre, adorei! A forma como o A.L.A. conhece a mente humana transparece em cada "parágrafo", em que está presente de corpo e alma a mente de cada personagem e não apenas a sua história.
Nenhum outro autor cuja obra eu tenha lido até hoje consegue, nem de forma aproximada, "escrever como se pensa" de uma maneira tão clara... Definitivamente aconselho, especialmente a quem nunca leu nada deste autor, pois pareceu-me uma boa forma de começar por ser menos "pesado" (em termos de tema) que algumas das suas obras anteriores.
Um conselho para quem nunca leu A.L.A.: Não se volta atrás na página, da mesma forma que não se pode voltar atrás para ver o que se pensou há 15 minutos atrás :)

Terminada esta obra, iniciei outra que já estava em fila de espera e da qual também gostei imenso. Trata-se do livro Versículos Satânicos de Salman Rushdie, que deixa qualquer leitor completamente hipnotizado com todos os diferentes cenários que vão sendo apresentados e preso a cada uma das várias histórias intercaladas que parecem ficar sempre suspensas no ponto onde queríamos mesmo saber o que se passa a seguir!



Nesta obra, a fusão entre cenários absolutamente mundanos e outros totalmente fantasiosos é brilhante e, por vezes, inesperada, bem como o paralelismo entre personagens de histórias diferentes (ou deverei dizer "dA história"?). Em suma, mais uma obra para "Adicionar aos Favoritos" e que aconselho vivamente a qualquer tipo de leitor! Para mim, foi a primeira deste autor mas não será, certamente, a única.

Em paralelo com estes li mais dois livros práticos... O belo do livrinho de andar por casa por assim dizer :) Foram eles:


A Verdade Sobre os Alimentos  que é baseado numa série documental sobre o tema e contém bastante informação interessante para quem gosta do assunto. Peca pela falta de resultados finais em muitas das experiências com a desculpa de não estarem disponíveis aquando do lançamento do livro, o que leva a pensar que o livro terá sido lançado "à pressa" e sem a preocupação devida em fundamentar todas as teorias nele contidas, algumas delas bastante importantes.







Wanted - Procura-se! que se debruça sobre o comportamento ideal que alguém deve ter quando tem o objectivo de ser um empregado de destaque na empresa onde trabalha ou um candidatode eleição quando procura emprego. Foca-se maioritariamente em aspectos da vida social que cada pessoa deve assumir bem como em traços de mentalidade que devem ser (ou não) modificados de forma a cumprir os objectivos a nível da carreira. Na minha humilde opinião não é, mesmo dentro da classe de "livros práticos", um livro razoável pois sugestões como "visite muitos países diferentes" não podem ser seguidas por qualquer pessoa, especialmente se a mesma estiver desempregada. Enfim, algumas dicas interessantes, outras para "passar à frente". Não recomendo nem deixo de recomendar...




Agora sim, aproximamo-nos do final... Gostaria só de acrescentar ainda que comecei esta semana a ler o Guerra e Paz de Liev Tolstói e até agora estou a adorar, mas também já se sabe que tudo o que são escritores do século XIX... Estou a ler uma edição composta por 4 volumes e já tenho os dois primeiros,quando iniciar o segundo volume comprarei os restantes... Ainda não me alongo mais acerca da obra porque estou muito no início, mas cá voltarei para dar a minha opinião...




E pronto... Por hoje é tudo, despeço-me com uma pequena passagem de uma grande obra!


I. O INFANTE 
 
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
 
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
 
Quem te sagrou criou-te portuguez..
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

in: Mensagem -  Segunda Parte - Mar Portuguez, Fernando Pessoa


Bom fim de semana e boas leituras! :)