sexta-feira, 23 de julho de 2010

Guerra e Paz

Ora cá estou eu... De volta e, como devem calcular pelo tempo que passou, com muito para pôr em dia... No último post, estava a terminar o primeiro volume de Guerra e Paz, ao qual se seguiram os restantes 3 volumes e mesmo um pequeno excerto do filme, que não achei particularmente interessante, mas só poderei realmente opinar quando vir completo.


Em relação ao livro, esse sim, lido e absorvido palavra a palavra, achei merecedor de cada vez que já foi e continuará a ser apelidado de genial. Um verdadeiro clássico.
Desde a intriga dos tempos de Paz às descrições dos tempos de Guerra, desde o enredo às divagações do autor, desde as análises históricas às comparações científicas, tudo demonstra o quanto se está a ler a obra prima de um génio! Não apenas pelo seu talento literário, mas também pelo seu grau de conhecimento em diferentes áreas de estudo, Tolstói demonstra ser um dos escritores mais dignos de ser recordado enquanto a literatura tiver um lugar na vida da humanidade.
Podemos encontrar, especialmente no final do último volume da obra, longas considerações do autor acerca da conjugação de factores perfeitamente aleatórios que dão origem a um grande acontecimento, bem como das diferentes interpretações que esses mesmos factores ou determinada parte deles, terão consoante quem os analisa e quando são analisados. Quando digo "longas", poderão achar que isto será sinónimo de "aborrecidas", o que não é, de todo, verdade se tiverem prazer em ler uma argumentação extremamente bem exposta e fundamentada. Pessoalmente, achei fascinante e enriquecedor!

Uma pequena nota "negativa", que não posso mesmo deixar de fazer, é a forma como são retratadas as personagens femininas... Achei demasiado evidente que estava SEMPRE presente, em qualquer personagem feminina, uma certa nota de futilidade e falta de inteligência, por mais interessante e bem construída que a personagem fosse. É pena. Como foi a primeira obra que li deste autor, não posso desde já assumir que é uma característica do mesmo. Veremos... Anna Karenina está na "lista de espera".

Gostaria de deixar um excerto (desta feita, traduzido, pois tanto eu como a maioria de vós não entende russo o que tornaria difícil, para mim, a selecção e, para vós, a apreciação), mas não tenho comigo, de momento, o que gostaria de deixar. Fica prometido: mais logo cá estará!

Por agora cito apenas o autor:

"Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia."
"Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas."
 "Enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra."
"Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo."
- Lev Tolstói

ADICIONADO:

"Quando uma maçã amadurece e cai da árvore, por que razão é que ela cai? Porque gravita para a terra, porque lhe seca o pedículo, ou porque o sol seca o fruto, ou porque este se torna pesado, ou porque o vento o sacode, ou porque o rapaz debaixo da árvore quer comê-lo?
Nada disso é a causa. Tudo isso é apenas a coincidência das condições em que se produz qualquer acontecimento vital, orgânico e espontâneo. E o botânico que achar que a maçã cai porque o tecido celular se decompõe, e assim por diante, terá tanta razão e não terá razão alguma como o rapaz que, debaixo da árvore, disser que a maçã caíu porque lhe apetecia comê-la e porque rezou para que ela caísse. Da mesma forma, terá e não terá razão aquele que disser que Napoleão avançou para Moscovo porque assim o quis e que fracassou porque Alexandre quis que ele fracassasse; também assim, tem e não tem razão aquele que disser que um monte de um milhão de arrobas socavado caiu porque o último operário lhe deu o último golpe de picareta. Nos acontecimentos históricos, os assim chamados grandes homens são etiquetas que dão o nome ao acontecimento e que, como etiqueta que são, têm um mínimo de ligação com o acontecimento em si.
Qualquer acção deles, por mais voluntária que lhes pareça, no sentido histórico é involuntária e encontra-se em ligação com todo o devir da história, estando determinada desde sempre."

in Guerra e Paz, Livro III, Primeira Parte, Capítulo I

Com tanto para por em dia, não me parece bem ficar tudo junto no mesmo post.... Pelo que ficam as cenas do próximo episódio: O Mandarim, de Eça de Queirós.

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