terça-feira, 22 de setembro de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço






 
Para compensar as falhas de ontem, deixo-vos um génio...
 
O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

                      Álvaro de Campos

 
 
Mais logo talvez cá dê um saltinho! Considerem-se cultivados!

2 comentários:

  1. Álvaro de Campos e não fala em máquinas nem em rins? Lol
    Ele tinha mesmo jeito para a coisa. A olhar assim de repente encontramos meia dúzia de figuras de estilo, numa análise cuidada muitas mais seriam evidentes... E parece apenas um desabafo, simples, escrito no momento... mas com muita arte por trás.

    Manda vir mais! Adoro os posts em que pões poemas :)

    ResponderEliminar
  2. Hehehe... o Álvaro é mesmo qq coisa :) A-D-O-R-O!!!!
    Não te preocupes, não faltarão!!! hehehe

    ResponderEliminar