sexta-feira, 27 de maio de 2011

Eu confesso....

... Que explorando um bocadinho mais este senhor, ele até tem o seu je ne sais quoi! À falta de melhor para falar, por estar a ler contra-relógio e querer deixar tudo o que tenho para dizer sobre o livro para um post só, fica um momento "Verde" para decorar esta sexta-feira!

Cinismos  
Eu hei de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.

Hei de expor-lhe o meu peito descarnado,
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário,
E ser menos que um Judas empalhado.

Hei de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar a vida, o mundo, o gozo,
Como um velho filósofo lendário.

Hei de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei de olhá-la dum modo tão nervoso,

Que ela há de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há de chorar, chorar enternecida!

E eu hei de, então, soltar uma risada.


Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'

Bons filmes e  boas leituras!

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