terça-feira, 3 de maio de 2011

Nil by Mouth



Ora aqui está um filme que teve entrada directa no meu top de preferidos de sempre. Nil by Mouth não é um filme para acompanhar com pipocas nem para passar uma agradável tarde de Domingo, é preciso ter noção de que o estômago vai dar muitas voltas durante os 128 minutos que se seguem a carregar no "play".
Esta primeira e, infelizmente, única experiência de Gary Oldman como realizador e argumentista é um retrato (semi)autobiográfico da classe trabalhadora de Londres assolada pelos vícios e violência.
São duas horas de pubs escuros povoados por gente infeliz que desculpa a violência com o álcool, casas em que tudo se sabe e tudo se tenta esconder, famílias possuídas pelo rancor e destruídas pela violência doméstica e as muitas formas que cada personagem tem, como indivíduo, de lidar com os seus problemas, fantasmas e meio envolvente.
Desde os delírios alcoólicos Ray (Ray Winstone) até à capacidade de absorver, sem perder a calma mas com profunda preocupação, a realidade de um filho toxicodependente e uma irmã vítima de violência doméstica de Janet (Laila Morse), tudo nos obriga a não tirar os olhos do ecrã mas com a constante sensação de querer fugir.
A forma como as cenas são filmadas e o som têm também um papel muito importante nas sensações que experimentamos ao ver o filme, uma vez que nos deixam com a constante sensação de estarmos inseridos no ambiente, como espectador, é certo, mas demasiado perto de uma realidade à qual preferimos "virar a cara" a maior parte do tempo.
Sem morais da história, sem explicações, sem culpabilizações externas pelas situações em que as personagens se encontram, sem justificações e como é óbvio e real, sem "happily ever after".
Em suma, um muito pouco conhecido "must see", com uma linguagem imprópria para sensíveis e uma história (ou um capítulo de muitas histórias) sem príncipes encantados nem fadas madrinhas, só realidade crua e visceral. Recomendo vivamente!

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