Quando os vejo,
Os da minha juventude,
E não me reconhecem
(Ou não lhes sirvo nenhum propósito)
Nos seus fatos engomados,
Pescoços estrangulados por seda multicolor,
Olho os seus olhos vazios,
Conformados, enganados,
Convencidos que têm a vida que planearam
Que têm os seus carros,
As suas casas,
As suas esposas parideiras de sonho...
E penso como por vezes os invejei...
Já quis (quis?) fazer parte da companhia
Ou disso me quiseram convencer.
Já, em momentos de insanidade,
Desejei também sair tarde,
ter uma progressão dessa tal coisa de carreira,
Usar fatos caros comprados
Com promoções e contratos e prémios.
Nos os quero verdadeiramente.
Nunca os quis no meu íntimo,
Fugi-lhes e não me arrependo
(Não todos os dias!)
Não quero fazer parte
Nem estar integrada.
Não quero passear o meu olhar vazio
Pela paisagem sobre o Tejo
Do meu apartamento meticulosamente decorado.
Não, obrigada.