(Favor imaginar aqui a imagem que o blogger não está a deixar colocar da capa do livro)
Este "tenho lido", na onda do andar constantemente "à procura de um milagre" mas devo dizer que gosto bastante do livro. A forma como está escrito, dá-nos a sensação de estarmos no consultório do Dr. Atkins, que por acaso é bem simpático, sendo esclarecidos por ele à medida que nos vão surgindo as dúvidas.
Além disto, é uma aproximação às dietas de perda de peso menos comum nos dias que correm, apesar de não ter nada de recente, e fala de forma científica mas compreensível de alguns processos que se passam no nosso corpo que não entendemos e sobre os quais nunca nos questionámos. Gosto particularmente do ponto de vista do senhor em relação aos hidratos de carbono serem quase como uma "droga" e provocarem, efectivamente, vício. Como sempre me senti um pouco "viciada" no que diz respeito a comida, encaixei-me completamente no perfil apresentado da pessoa com excesso de peso abordada pelo Dr. Atkins.
É um livro prático pelo que não faz sentido discuti-lo de um ponto de vista literário, no entanto não deixo de recomendar!
quarta-feira, 22 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
Tese e Antítese
I
Já não sei o que vale a nova idéia,
Quando a vejo nas ruas desgrenhada,
Torva no aspecto, à luz da barricada,
Como bacchante após lúbrica ceia...
Sanguinolento o olhar se lhe incendeia;
Respira fumo e fogo embriagada:
A deusa de alma vasta e sossegada
Ei-la presa das fúrias de Medeia!
Um século irritado e truculento
Chama à epilepsia pensamento,
Verbo ao estampido de pelouro e obuz...
Mas a idea é n'um mundo inalterável,
N'um cristalino céu, que vive estável...
Tu, pensamento, não és fogo, és luz!
II
N'um céu intemerato e cristalino
Pode habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar em sonho cambiante
O Ser, como espectáculo divino.
Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou, vive e agita-se incessante:
Enche o ar da terra o seu pulmão possante...
Cá da terra blasfema ou ergue um hino...
A idéia encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos sóis!
Combatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da luta,
Té que a fecunde o sangue dos heróis!
Antero de Quental, in "Sonetos"
Já não sei o que vale a nova idéia,
Quando a vejo nas ruas desgrenhada,
Torva no aspecto, à luz da barricada,
Como bacchante após lúbrica ceia...
Sanguinolento o olhar se lhe incendeia;
Respira fumo e fogo embriagada:
A deusa de alma vasta e sossegada
Ei-la presa das fúrias de Medeia!
Um século irritado e truculento
Chama à epilepsia pensamento,
Verbo ao estampido de pelouro e obuz...
Mas a idea é n'um mundo inalterável,
N'um cristalino céu, que vive estável...
Tu, pensamento, não és fogo, és luz!
II
N'um céu intemerato e cristalino
Pode habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar em sonho cambiante
O Ser, como espectáculo divino.
Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou, vive e agita-se incessante:
Enche o ar da terra o seu pulmão possante...
Cá da terra blasfema ou ergue um hino...
A idéia encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos sóis!
Combatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da luta,
Té que a fecunde o sangue dos heróis!
Antero de Quental, in "Sonetos"
Só para vos deixar uma coisa bonita! Gosto mesmo muito!
Bons filmes e boas leituras!
segunda-feira, 20 de junho de 2011
The Great Gatsby
Acabei de terminar The Great Gatsby de F. Scott Fitzgerald e A-D-O-R-E-I!
Uma história realmente envolvente, com personagens que têm a particularidade de agarrar realmente o leitor que tenta entende-las e avaliar o que está por detrás das descrições físicas.
A história está repleta de constantes "contratempos" e pequenas revelações que transmitem uma constante sensação de surpresa. Em relação ao Gatsby, o mistério que se vai construindo e que nunca chega a estar completamente desvendado, deixa-nos divagar sobre o seu passado e os seus sentimentos.
No fundo, trata-se de nos mostrar como é possível fazer tudo na vida sem nunca largar o passado que se amou nem ser perseguido por aquele em que se errou ou que, pelo menos, não se quer revelar, e a indagação acerca de até que ponto é compensador viver preso a um momento passado, na esperança de que, ao regressar, o momento ainda seja o mesmo, quando sabemos que nunca é.
Culmina num fim trágico resultante de uma combinação de coincidências e mal entendidos que me fizeram lembrar muito Eça ou Dostoievsky
Recomendo vivamente aos poucos que possam ainda não ter lido! Sucessor? Estou indecisa.... Em breve anunciarei!
Uma história realmente envolvente, com personagens que têm a particularidade de agarrar realmente o leitor que tenta entende-las e avaliar o que está por detrás das descrições físicas.
A história está repleta de constantes "contratempos" e pequenas revelações que transmitem uma constante sensação de surpresa. Em relação ao Gatsby, o mistério que se vai construindo e que nunca chega a estar completamente desvendado, deixa-nos divagar sobre o seu passado e os seus sentimentos.
No fundo, trata-se de nos mostrar como é possível fazer tudo na vida sem nunca largar o passado que se amou nem ser perseguido por aquele em que se errou ou que, pelo menos, não se quer revelar, e a indagação acerca de até que ponto é compensador viver preso a um momento passado, na esperança de que, ao regressar, o momento ainda seja o mesmo, quando sabemos que nunca é.
Culmina num fim trágico resultante de uma combinação de coincidências e mal entendidos que me fizeram lembrar muito Eça ou Dostoievsky
Recomendo vivamente aos poucos que possam ainda não ter lido! Sucessor? Estou indecisa.... Em breve anunciarei!
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Pedes a Deus Quanto a ti te Quitas
QUE COM OS SEUS EXCESSOS ACELERAM A DOENÇA E A VELHICE
Que os anos sobre ti voem bem leves,
pedes a Deus; e que o rosto as pegadas
deles não sinta, e às grenhas bem penteadas
não transmita a velhice suas neves.
Isto lhe pedes, e bêbedo bebes
as vindimas em taças coroadas;
e pra teu ventre todas as manadas
que Apúlia pastam são bocados breves. .
Pedes a Deus quanto a ti te quitas;
a enfermidade e a velhice tragas
e estar isento delas solicitas.
Mas em rugosa pele dívidas pagas
das grandes bebedeiras que vomitas,
e na saúde que, comilão, estragas.
Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética'
Tradução de José Bento
Só porque hoje estou a dar numa de moralista.... Não, não estou nada! Sabeis que sou uma rapariga de excessos, mas achei piada ao poema todo beato e certinho e cheio de moral! Teve o seu je ne sais quoi de familiar..... Enfim...
Bons filmes e boas leituras!
Que os anos sobre ti voem bem leves,
pedes a Deus; e que o rosto as pegadas
deles não sinta, e às grenhas bem penteadas
não transmita a velhice suas neves.
Isto lhe pedes, e bêbedo bebes
as vindimas em taças coroadas;
e pra teu ventre todas as manadas
que Apúlia pastam são bocados breves. .
Pedes a Deus quanto a ti te quitas;
a enfermidade e a velhice tragas
e estar isento delas solicitas.
Mas em rugosa pele dívidas pagas
das grandes bebedeiras que vomitas,
e na saúde que, comilão, estragas.
Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética'
Tradução de José Bento
Só porque hoje estou a dar numa de moralista.... Não, não estou nada! Sabeis que sou uma rapariga de excessos, mas achei piada ao poema todo beato e certinho e cheio de moral! Teve o seu je ne sais quoi de familiar..... Enfim...
Bons filmes e boas leituras!
quinta-feira, 16 de junho de 2011
O Ateu é Deus
Deus não existe (...) A salvação de todos consiste agora em provar essa ideia a toda a gente, percebes? Quem é que há-de prová-la? Eu! Não entendo como é que até agora um ateu podia saber que Deus não existe e não se suicidava logo. Reconhecer que Deus não existe e não reconhecer ao mesmo tempo que o próprio se tornou deus é um absurdo, pois de outra maneira suicidar-se-ia inevitavelmente. Se tu o reconheces, és um rei e não te matarás, mas viverás na maior glória. Mas só o primeiro a perceber isso é que deve inevitavelmente matar-se, senão o que é que principiaria e provaria?
Sou eu que me vou suicidar para iniciar e para provar. Ainda só sou deus sem querer e sofro porque tenho o DEVER de proclamar a minha própria vontade. Todos são infelizes porque todos têm medo de afirmar a sua vontade. Se o homem até hoje tem sido tão infeliz e tão pobre, é precisamente porque tem tido medo de afirmar o ponto capital da sua vontade, recorrendo a ela às escondidas como um jovem estudante.
Eu sou profundamente infeliz porque tenho medo profundamente. O medo é a maldição do homem... Mas hei-de proclamar a minha vontade, tenho o dever de crer que não creio. E serei salvo. Só isto salvará todos os homens e há-de transformá-los fisicamente, na geração seguinte; porque, no seu estado físico actual (reflecti nisso muito tempo), o homem não pode, de modo algum, passar sem o seu velho Deus.
Durante três anos procurei o atributo da minha divindade e achei-o: o atributo da minha divindade é a minha vontade, é o livre arbítrio. É com isso que posso manifestar sobre o ponto capital a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova. Porque é terrível! Mato-me para afirmar a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova.
Fiodor Dostoievski, in 'Os Possessos' (discurso do personagem Kirilov)
Hoje apeteceu-me assim uma coisa diferente..... Preciso de ler Dostoievski de novo.... Estou com saudades!
Bons filmes e boas leituras!
Sou eu que me vou suicidar para iniciar e para provar. Ainda só sou deus sem querer e sofro porque tenho o DEVER de proclamar a minha própria vontade. Todos são infelizes porque todos têm medo de afirmar a sua vontade. Se o homem até hoje tem sido tão infeliz e tão pobre, é precisamente porque tem tido medo de afirmar o ponto capital da sua vontade, recorrendo a ela às escondidas como um jovem estudante.
Eu sou profundamente infeliz porque tenho medo profundamente. O medo é a maldição do homem... Mas hei-de proclamar a minha vontade, tenho o dever de crer que não creio. E serei salvo. Só isto salvará todos os homens e há-de transformá-los fisicamente, na geração seguinte; porque, no seu estado físico actual (reflecti nisso muito tempo), o homem não pode, de modo algum, passar sem o seu velho Deus.
Durante três anos procurei o atributo da minha divindade e achei-o: o atributo da minha divindade é a minha vontade, é o livre arbítrio. É com isso que posso manifestar sobre o ponto capital a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova. Porque é terrível! Mato-me para afirmar a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova.
Fiodor Dostoievski, in 'Os Possessos' (discurso do personagem Kirilov)
Hoje apeteceu-me assim uma coisa diferente..... Preciso de ler Dostoievski de novo.... Estou com saudades!
Bons filmes e boas leituras!
quarta-feira, 15 de junho de 2011
O sono
O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
E basicamente é isto, mas com menos metáforas.... *bocejo*
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
E basicamente é isto, mas com menos metáforas.... *bocejo*
terça-feira, 14 de junho de 2011
Parabéns atrasados
Chegam atrasados porque o dia ontem foi de morte cerebral total, de qualquer maneira não queria deixar passar em branco o aniversário de um dos poetas mais presentes neste blog: o grande, enorme, genial Fernando Pessoa!
Nasceu fez ontem 123 anos e, para a literatura, é imortal!
O poeta é um fingidor
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
De Fernando Pessoa
Bons filmes e boas leituras!
Nasceu fez ontem 123 anos e, para a literatura, é imortal!
O poeta é um fingidor
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
De Fernando Pessoa
Bons filmes e boas leituras!
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Cheira bem, cheira a Lisboa!
Lisboa já tem Sol mas cheira a Lua
Quando nasce a madrugada sorrateira
E o primeiro eléctrico da rua
Faz coro com as chinelas da Ribeira
Se chove cheira a terra prometida
Procissões têm o cheiro a rosmaninho
Nas tascas da viela mais escondida
Cheira a iscas com elas e a vinho
(Refrão)
Um craveiro numa água furtada
Cheira bem, cheira a Lisboa
Uma rosa a florir na tapada
Cheira bem, cheira a Lisboa
A fragata que se ergue na proa
A varina que teima em passar
Cheiram bem porque são de Lisboa
Lisboa tem cheiro de flores e de mar
Cheira bem, cheira a Lisboa (2x)
A fragata que se ergue na proa
A varina que teima em passar
Cheiram bem porque são de Lisboa
Lisboa tem cheiro de flores e de mar
Lisboa cheira aos cafés do Rossio
E o fado cheira sempre a solidão
Cheira a castanha assada se está frio
Cheira a fruta madura quando é Verão
Teus lábios têm o cheiro de um sorriso
Manjerico tem o cheiro de cantigas
E os rapazes perdem o juízo
Quando lhes dá o cheiro a raparigas
(Refrão)
Cheira bem, cheira a Lisboa (2x)
A fragata que se ergue na proa
A varina que teima em passar
Cheiram bem porque são de Lisboa
Lisboa tem cheiro de flores e de mar
Quando nasce a madrugada sorrateira
E o primeiro eléctrico da rua
Faz coro com as chinelas da Ribeira
Se chove cheira a terra prometida
Procissões têm o cheiro a rosmaninho
Nas tascas da viela mais escondida
Cheira a iscas com elas e a vinho
(Refrão)
Um craveiro numa água furtada
Cheira bem, cheira a Lisboa
Uma rosa a florir na tapada
Cheira bem, cheira a Lisboa
A fragata que se ergue na proa
A varina que teima em passar
Cheiram bem porque são de Lisboa
Lisboa tem cheiro de flores e de mar
Cheira bem, cheira a Lisboa (2x)
A fragata que se ergue na proa
A varina que teima em passar
Cheiram bem porque são de Lisboa
Lisboa tem cheiro de flores e de mar
Lisboa cheira aos cafés do Rossio
E o fado cheira sempre a solidão
Cheira a castanha assada se está frio
Cheira a fruta madura quando é Verão
Teus lábios têm o cheiro de um sorriso
Manjerico tem o cheiro de cantigas
E os rapazes perdem o juízo
Quando lhes dá o cheiro a raparigas
(Refrão)
Cheira bem, cheira a Lisboa (2x)
A fragata que se ergue na proa
A varina que teima em passar
Cheiram bem porque são de Lisboa
Lisboa tem cheiro de flores e de mar
César de Oliveira
E mais não digo que é desnecessário e excessivo! =D
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Escrita e Interpretação
Sócrates: Você sabe, Fedro, esta é a singularidade do escrever, que o torna verdadeiramente análogo ao pintar. As obras de um pintor mostram-se a nós como se estivessem vivas; mas, se as questionamos, elas mantêm o mais altivo silêncio. O mesmo se dá com as palavras escritas: parecem falar connosco como se fossem inteligentes, mas, se lhes perguntamos qualquer coisa com respeito ao que dizem, por desejarmos ser instruídos, elas continuam para sempre a nos dizer exactamente a mesma coisa. E, uma vez que algo foi escrito, a composição, seja qual for, espalha-se por toda a parte, caindo em mãos não só dos que a compreendem mas também dos que não têm relação alguma com ela; não sabe como se dirigir às pessoas certas e não se dirigir às erradas. E, quando é maltratada ou injustamente ultrajada, precisa sempre que o seu pai lhe venha em socorro, sendo incapaz de se defender ou de cuidar de si própria.
Platão, in 'Fedro'
Hoje, não sei porquê, pareceu-me importante partilhar isto.
Alguém já reparou que às vezes é complicado discutir um assunto?
O debate é frequentemente mal interpretado e mal visto e quem gosta de debater um assunto, pelo simples prazer da argumentação, é frequentemente visto como sendo "do contra" porque parece, lá está, nunca concordar.
Imagine-se uma conversa entre dois interlocutores, em que o A defende um ponto de vista e o B apenas deseja debater.
Por vezes, não se trata apenas de ouvir e concordar ou discordar, há quem (como eu e o interlocutor B) tire prazer da análise de um assunto até à exaustão mesmo sem que haja uma opinião formada à partida, mesmo que não esteja a ser tomado um partido. Nestes casos, cada argumento do interlocutor A é posto em causa e chega-se a um certo ponto em que parece ser o único objectivo do interlocutor B desacreditar o que o outro diz. É isto? Não. É a procura por mais argumentação. Quando a argumentação falha, frequentemente o interlocutor A sente que está a ser atacado pois deixa de ter como debater o assunto por ter esgotado o seu ponto de vista sem ainda ter convencido o interlocutor B. O grande problema, é que esta situação acabará por acontecer a um dado instante, mais tarde ou mais cedo, e por mais sólida e completa que seja a argumentação do interlocutor A, porque o interlocutor B não procura um objectivo, não quer uma conclusão e não poderá ser convencido de que existe uma teoria final correcta. Não se trata, nem sequer remotamente, de um ataque ou de uma tentativa de subjugação, mas sim de um prazer que não é retirado das "faltas" do outro mas das vitórias próprias obtidas por conseguir encontrar sempre uma contra argumentação que promova a continuação do debate.
Falando por mim, não tiro grande prazer de discussões nas quais tenho uma posição definida... Limito-me frequentemente a despejar argumentos ou a, simplesmente, concordar em discordar. Agora, discussões em que quero conhecer melhor o assunto, ou a(s) pessoa(s) com quem discuto, não estando à partida de acordo nem contra nada, procurando apenas "jogar às palavras", evitar os tiros e responder na mesma moeda, em suma, discutir, dão-me um enorme prazer!
Acreditem, eu NÃO sou do contra... Apenas apaixonada pela palavra falada, tanto ou mais que pela escrita!
Bons filmes e boas leituras!
Platão, in 'Fedro'
Hoje, não sei porquê, pareceu-me importante partilhar isto.
Alguém já reparou que às vezes é complicado discutir um assunto?
O debate é frequentemente mal interpretado e mal visto e quem gosta de debater um assunto, pelo simples prazer da argumentação, é frequentemente visto como sendo "do contra" porque parece, lá está, nunca concordar.
Imagine-se uma conversa entre dois interlocutores, em que o A defende um ponto de vista e o B apenas deseja debater.
Por vezes, não se trata apenas de ouvir e concordar ou discordar, há quem (como eu e o interlocutor B) tire prazer da análise de um assunto até à exaustão mesmo sem que haja uma opinião formada à partida, mesmo que não esteja a ser tomado um partido. Nestes casos, cada argumento do interlocutor A é posto em causa e chega-se a um certo ponto em que parece ser o único objectivo do interlocutor B desacreditar o que o outro diz. É isto? Não. É a procura por mais argumentação. Quando a argumentação falha, frequentemente o interlocutor A sente que está a ser atacado pois deixa de ter como debater o assunto por ter esgotado o seu ponto de vista sem ainda ter convencido o interlocutor B. O grande problema, é que esta situação acabará por acontecer a um dado instante, mais tarde ou mais cedo, e por mais sólida e completa que seja a argumentação do interlocutor A, porque o interlocutor B não procura um objectivo, não quer uma conclusão e não poderá ser convencido de que existe uma teoria final correcta. Não se trata, nem sequer remotamente, de um ataque ou de uma tentativa de subjugação, mas sim de um prazer que não é retirado das "faltas" do outro mas das vitórias próprias obtidas por conseguir encontrar sempre uma contra argumentação que promova a continuação do debate.
Falando por mim, não tiro grande prazer de discussões nas quais tenho uma posição definida... Limito-me frequentemente a despejar argumentos ou a, simplesmente, concordar em discordar. Agora, discussões em que quero conhecer melhor o assunto, ou a(s) pessoa(s) com quem discuto, não estando à partida de acordo nem contra nada, procurando apenas "jogar às palavras", evitar os tiros e responder na mesma moeda, em suma, discutir, dão-me um enorme prazer!
Acreditem, eu NÃO sou do contra... Apenas apaixonada pela palavra falada, tanto ou mais que pela escrita!
Bons filmes e boas leituras!
terça-feira, 7 de junho de 2011
Saramagando...
Porque eu sou uma pessoa que gosta do seu equilíbrio, ao ver o país a "endireitar" (deixo ao vosso critério a interpretação directa ou figurada) resolvi explorar (mais) um bocadinho um senhor de esquerda... Pois não é que eu não sabia que o nosso Nobel, José Saramago, também escrevia poesia?
Devia ter calculado e, diga-se de passagem, poucos andam para aí que, escrevendo, não dêem as suas voltinhas pela poesia, não é? Mas pronto, simplesmente nunca me tinha ocorrido nem nunca tinha "esbarrado" em nada, por isso fiquei, até certo ponto, surpreendida...
Assim sendo, e para quem, como eu, ainda não tenha "esbarrado", fica uma pequena amostra para aguçar a curiosidade!
Não me Peçam Razões...
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"
Bons filmes e boas leituras!
Devia ter calculado e, diga-se de passagem, poucos andam para aí que, escrevendo, não dêem as suas voltinhas pela poesia, não é? Mas pronto, simplesmente nunca me tinha ocorrido nem nunca tinha "esbarrado" em nada, por isso fiquei, até certo ponto, surpreendida...
Assim sendo, e para quem, como eu, ainda não tenha "esbarrado", fica uma pequena amostra para aguçar a curiosidade!
Não me Peçam Razões...
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"
Bons filmes e boas leituras!
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Mudança...
E pronto. Foi a escolha dos portugueses! Faça-se a nossa vontade!
Se vai ser melhor? Não sei, ninguém sabe. Resta-nos esperar, ouvir atentamente, usar a nossa tantas vezes curta memória, analisar com frieza e sem polarização e avaliar os resultados. Felizmente, esteve agora nas nossas mãos e assim continuará.
Lamento profundamente a abstenção elevada, ainda que os cadernos eleitorais não estejam actualizados, não deixou de o ser, não deixou também de haver a prova irrefutável das reportagens feitas nas praias onde muitos afirmavam não ir votar... É pena. É pena que tão recentemente tenha alguém lutado por este direito para nós hoje o desprezarmos, para não usufruirmos dele, para irmos na nossa passividade gozar o Sol e deixar que outros decidam por nós. É incompreensível e é feio.
Desmotivados com a política, quase todos estamos, não tendo tido ultimamente grandes razões para o contrário, mas se ficamos apenas a ver o barco passar, a dispensar um direito que temos de lhe mudar o rumo, quem somos para depois protestar? Quem somos para nos manifestarmos e fazermos greves? Somos o povo que gosta de se divertir, relaxar e ver o que dá... Enfim, para a próxima será melhor!
Para já, estou moderadamente optimista (não, não me esqueci da Troika nem das pesadas medidas de contenção que estão prestes a entrar em vigor) que vamos começar a seguir por um novo rumo e que alguma coisa pode começar a melhorar... Ver-se-á.
Despeço-me com um clássico:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Bons filmes e boas leituras!
Se vai ser melhor? Não sei, ninguém sabe. Resta-nos esperar, ouvir atentamente, usar a nossa tantas vezes curta memória, analisar com frieza e sem polarização e avaliar os resultados. Felizmente, esteve agora nas nossas mãos e assim continuará.
Lamento profundamente a abstenção elevada, ainda que os cadernos eleitorais não estejam actualizados, não deixou de o ser, não deixou também de haver a prova irrefutável das reportagens feitas nas praias onde muitos afirmavam não ir votar... É pena. É pena que tão recentemente tenha alguém lutado por este direito para nós hoje o desprezarmos, para não usufruirmos dele, para irmos na nossa passividade gozar o Sol e deixar que outros decidam por nós. É incompreensível e é feio.
Desmotivados com a política, quase todos estamos, não tendo tido ultimamente grandes razões para o contrário, mas se ficamos apenas a ver o barco passar, a dispensar um direito que temos de lhe mudar o rumo, quem somos para depois protestar? Quem somos para nos manifestarmos e fazermos greves? Somos o povo que gosta de se divertir, relaxar e ver o que dá... Enfim, para a próxima será melhor!
Para já, estou moderadamente optimista (não, não me esqueci da Troika nem das pesadas medidas de contenção que estão prestes a entrar em vigor) que vamos começar a seguir por um novo rumo e que alguma coisa pode começar a melhorar... Ver-se-á.
Despeço-me com um clássico:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Bons filmes e boas leituras!
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!
Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
Eu sou doida-alegre à sexta feira... Nos outros dias compreendo o que ele diz! E pronto, era só para não dizer que não vos deixava qualquer coisa para reflectir no fim de semana!
Bons filmes e boas leituras!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
Eu sou doida-alegre à sexta feira... Nos outros dias compreendo o que ele diz! E pronto, era só para não dizer que não vos deixava qualquer coisa para reflectir no fim de semana!
Bons filmes e boas leituras!
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Com a Fortuna não Perde o Ser de Besta
Na carreira veloz, a deusa cega
Lança às vezes a mão a um feio mono
E o sobe, num instante, a um coche, a um trono,
Onde a Virtude com trabalho chega.
Porém se, louca, num jumento pega,
Por mais que o erga não lhe dá abono:
Bem se vê que foi sonho de seu sono,
Quando a vara ou bastão ela lhe entrega.
Pouco importa adornar asno casmurro
Com jaezes reais, mantas de festa,
Se a conhecer se dá no rouco zurro.
Quem, no berço, por vil se manifesta,
Quem nele baixo foi, quem nace burro,
Co'a Fortuna não perde o ser de besta.
Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'
Ora toma lá que já almoçaste! E é logo de manhã para abrir a pestana! G-E-N-I-A-L!!!
Bons filmes e boas leituras!
Lança às vezes a mão a um feio mono
E o sobe, num instante, a um coche, a um trono,
Onde a Virtude com trabalho chega.
Porém se, louca, num jumento pega,
Por mais que o erga não lhe dá abono:
Bem se vê que foi sonho de seu sono,
Quando a vara ou bastão ela lhe entrega.
Pouco importa adornar asno casmurro
Com jaezes reais, mantas de festa,
Se a conhecer se dá no rouco zurro.
Quem, no berço, por vil se manifesta,
Quem nele baixo foi, quem nace burro,
Co'a Fortuna não perde o ser de besta.
Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'
Ora toma lá que já almoçaste! E é logo de manhã para abrir a pestana! G-E-N-I-A-L!!!
Bons filmes e boas leituras!
quarta-feira, 1 de junho de 2011
O Livro de Duarte Barbosa
E pronto, está feita a viagem!
Foi uma experiência única e adorei viajar desde a costa oriental de África até à China do século XVI, vendo tudo pelos olhos de quem o vê quase desconhecido.
Desde os hábitos comerciais, aos estratos sociais, passando pelos costumes e pelas religiões, muito se encontra de fascinante por nunca se ter ouvido falar e muito se consegue rever nos dias de hoje.
O relato não é, obviamente, imparcial, sendo de certa forma invadido pelo espírito da conquista e da guerra santa, no entanto, na grande maioria, trata-se de uma narrativa bastante impessoal, pelo que se baseia mais em enumerações e descrições do que propriamente crítica ou avaliação dos costumes e, assim, apesar das esporádicas "críticas", consegue ter-se uma boa visão geral de todas as civilizações com que se vai tomando contacto.
Para quem nunca teve a experiência (que penso que será a maioria das pessoas que não estejam ligadas à área de história), recomendo vivamente! É extraordinário!
Vi também o filme Paths of Glory que ainda estava a faltar dos planeados para a maratona Kubrick e, já não é surpresa, gostei muito. Muito bem construído no que diz respeito a textos e personagens, não sei faz justiça ao romance em que é baseado, porque nunca li, mas acredito que sim. Muito intenso, mesmo. Recomendo também.
O próximo livro está já prontinho para lhe pegar e vai ser The Great Gatsby que já está à minha espera há uns bons dias! Vamos lá ver o que me espera!
Bons filmes e boas leituras!
Foi uma experiência única e adorei viajar desde a costa oriental de África até à China do século XVI, vendo tudo pelos olhos de quem o vê quase desconhecido.
Desde os hábitos comerciais, aos estratos sociais, passando pelos costumes e pelas religiões, muito se encontra de fascinante por nunca se ter ouvido falar e muito se consegue rever nos dias de hoje.
O relato não é, obviamente, imparcial, sendo de certa forma invadido pelo espírito da conquista e da guerra santa, no entanto, na grande maioria, trata-se de uma narrativa bastante impessoal, pelo que se baseia mais em enumerações e descrições do que propriamente crítica ou avaliação dos costumes e, assim, apesar das esporádicas "críticas", consegue ter-se uma boa visão geral de todas as civilizações com que se vai tomando contacto.
Para quem nunca teve a experiência (que penso que será a maioria das pessoas que não estejam ligadas à área de história), recomendo vivamente! É extraordinário!
Vi também o filme Paths of Glory que ainda estava a faltar dos planeados para a maratona Kubrick e, já não é surpresa, gostei muito. Muito bem construído no que diz respeito a textos e personagens, não sei faz justiça ao romance em que é baseado, porque nunca li, mas acredito que sim. Muito intenso, mesmo. Recomendo também.
O próximo livro está já prontinho para lhe pegar e vai ser The Great Gatsby que já está à minha espera há uns bons dias! Vamos lá ver o que me espera!
Bons filmes e boas leituras!
terça-feira, 31 de maio de 2011
Dactilografia
Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Firmo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Que náusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!
Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.
Outrora.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.
Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela náusea, vivo na outra ...
Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
É isto...É que é MESMO isto!
Bons filmes e boas leituras!
Firmo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Que náusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!
Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.
Outrora.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.
Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela náusea, vivo na outra ...
Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
É isto...É que é MESMO isto!
Bons filmes e boas leituras!
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Control
Control foi o eleito deste Domingo, depois de ter descoberto durante a semana passada que o filme existia!
Esta biografia de Ian Curtis abrangendo a sua curta vida adulta, associada à também curta carreira dos Joy Division, é um filme romântico e angustiante, sobre um rapaz que começa por ser mais sensível que a média e passa aos poucos, a ter dificuldades em lidar com esta sensibilidade.
Uma visão inicialmente infantil ou demasiado romântica do amor faz com que se case muito cedo e venha a desenvolver, mais tarde, algum sentimento de culpa ao ter dúvidas de ter feito a escolha certa, sendo este sentimento mais acentuado ainda quando se volta a apaixonar, não conseguindo lidar com a situação de ter fazer uma escolha. Vem a tornar-se num jovem cada vez mais exteriormente apático, sofrendo uma grande luta interior com sentimentos de culpa, angústia, paixão e desilusão. Obrigado a lidar com a complicada vida amorosa, a recentemente diagnosticada e não controlada epilepsia e a crescente (e para ele indesejada) fama dos Joy Division, revela-se incapaz de se adaptar às circunstâncias da vida e põe-lhe um fim, enforcando-se com apenas 23 anos de idade.
É dada alguma ênfase no filme, com toda a justiça, às belíssimas letras que escreveu, incaracterísticas de um poeta tão novo.
Foi também uma agradável surpresa o desempenho de Sam Riley, actor que não conhecia e cuja carreira é ainda bastante curta, no papel de Ian Curtis. Na minha opinião, foi capaz de expressar a luta interior por detrás a apatia, o que nem sempre é fácil...
Gostei MUITO e aconselho vivamente, tanto a fãs incondicionais como a quem nunca tenha antes ouvido falar de Ian Curtis ou de Joy Division.
Bons filmes e boas leituras!
PS - Também vi o The Hangover e o The Hangover Part II... Não são filmes que peçam grandes comentários mas são absolutamente hilariantes! Aconselho para uma tarde de relax! Soube-me bastante bem depois de Control, para "aliviar"!
Esta biografia de Ian Curtis abrangendo a sua curta vida adulta, associada à também curta carreira dos Joy Division, é um filme romântico e angustiante, sobre um rapaz que começa por ser mais sensível que a média e passa aos poucos, a ter dificuldades em lidar com esta sensibilidade.
Uma visão inicialmente infantil ou demasiado romântica do amor faz com que se case muito cedo e venha a desenvolver, mais tarde, algum sentimento de culpa ao ter dúvidas de ter feito a escolha certa, sendo este sentimento mais acentuado ainda quando se volta a apaixonar, não conseguindo lidar com a situação de ter fazer uma escolha. Vem a tornar-se num jovem cada vez mais exteriormente apático, sofrendo uma grande luta interior com sentimentos de culpa, angústia, paixão e desilusão. Obrigado a lidar com a complicada vida amorosa, a recentemente diagnosticada e não controlada epilepsia e a crescente (e para ele indesejada) fama dos Joy Division, revela-se incapaz de se adaptar às circunstâncias da vida e põe-lhe um fim, enforcando-se com apenas 23 anos de idade.
É dada alguma ênfase no filme, com toda a justiça, às belíssimas letras que escreveu, incaracterísticas de um poeta tão novo.
Foi também uma agradável surpresa o desempenho de Sam Riley, actor que não conhecia e cuja carreira é ainda bastante curta, no papel de Ian Curtis. Na minha opinião, foi capaz de expressar a luta interior por detrás a apatia, o que nem sempre é fácil...
Gostei MUITO e aconselho vivamente, tanto a fãs incondicionais como a quem nunca tenha antes ouvido falar de Ian Curtis ou de Joy Division.
Disorder
I've been waiting for a guide to come and take me by the hand
Could these sensations make me feel the pleasures of a normal man?
These sensations barely interest me for another day
I've got the spirit, lose the feeling, take the shock away
It's getting faster, moving faster now, it's getting out of hand
On the tenth floor, down the backstairs, it's a no man's land
Lights are flashing, cars are crashing, getting frequent now
I've got the spirit, lose the feeling, let it out somehow
What means to you, what means to me, and we will meet again
I'm watching you, I'm watching her, I'll take no pity from your friends
Who is right, who can tell, and who gives a damn right now
Until the spirit new sensation takes hold, then you know (3)
I've got the spirit, but lose the feeling (2)
Feeling, feeling, feeling, feeling, feeling, feeling, feeling.
Bons filmes e boas leituras!
PS - Também vi o The Hangover e o The Hangover Part II... Não são filmes que peçam grandes comentários mas são absolutamente hilariantes! Aconselho para uma tarde de relax! Soube-me bastante bem depois de Control, para "aliviar"!
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Eu confesso....
... Que explorando um bocadinho mais este senhor, ele até tem o seu je ne sais quoi! À falta de melhor para falar, por estar a ler contra-relógio e querer deixar tudo o que tenho para dizer sobre o livro para um post só, fica um momento "Verde" para decorar esta sexta-feira!
Cinismos
Eu hei de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.
Hei de expor-lhe o meu peito descarnado,
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário,
E ser menos que um Judas empalhado.
Hei de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar a vida, o mundo, o gozo,
Como um velho filósofo lendário.
Hei de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei de olhá-la dum modo tão nervoso,
Que ela há de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há de chorar, chorar enternecida!
E eu hei de, então, soltar uma risada.
Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.
Hei de expor-lhe o meu peito descarnado,
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário,
E ser menos que um Judas empalhado.
Hei de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar a vida, o mundo, o gozo,
Como um velho filósofo lendário.
Hei de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei de olhá-la dum modo tão nervoso,
Que ela há de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há de chorar, chorar enternecida!
E eu hei de, então, soltar uma risada.
Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'
Bons filmes e boas leituras!
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Álcool
Álcool Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longamente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.
Batem asas d'auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de côr e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Desce-me a alma, sangram-me os sentidos.
Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo -
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...
Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de ouro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...
Que droga foi a que me inoculei?
Ópio d'inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eterizo?
Resvalam longamente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.
Batem asas d'auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de côr e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Desce-me a alma, sangram-me os sentidos.
Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo -
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...
Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de ouro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...
Que droga foi a que me inoculei?
Ópio d'inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eterizo?
Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que eu ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu.
Mário de Sá-Carneiro, em 'Dispersão'
E pronto... Era só isto... Acho importante que tenham o momento de cultura do dia... O que vale é que quando eu não tenho nada para dizer, existe sempre alguém que já tenha dito algo de útil para eu publicar!
Bons filmes e boas leituras!
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Hino à Razão
Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.
Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,
Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Antero de Quental Uma passagem muito rápida só para deixar as palavras sábias de um grande senhor.
Perceberam? Hum? Hum? Razão! Razão é bonito.... Adiante!
Bons filmes e boas leituras!
terça-feira, 24 de maio de 2011
O Analfabeto Político
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa nos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o que é o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguer, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e enche o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
Bertolt Brecht
É difícil deixar de se ser analfabeto político. Ainda mais difícil quando não encaramos a política de uma forma quase "clubística" como muitos encaram. Infelizmente, para mim não é simples, não é a côr "A" ou "B" ou "C", não tenho uma "equipa do coração" da qual sei o palmarés de cor. Torço pelo Sporting porque "sou do Sporting", torço pela Ferrari porque "sou da Ferrari" mas não consigo torcer por um determinado partido porque "é o meu".
Decidi, durante muitos anos, que seria analfabeta. Por um lado estava cansada de ouvir as mentiras mais básicas e fáceis de "apanhar", por outro, dá menos trabalho ir à urna e votar em branco "lavando daí as minhas mãos".
Hoje já não pode ser... Hoje já não se vive o tempo das vacas gordas em que o que quer que os outros decidam por nós não vai fazer grande diferença porque mesmo que sejamos enganados, acaba por haver suficiente para todos: para os que trabalham e para os que ficam em casa, para os que estudam e para os que desistem, para os honestos e para os corruptos. Hoje é diferente.
Por isso apelo, pela primeira vez na minha vida, ao voto útil.
Sim, é melhor votar em branco que não votar. Sim, votar em branco exprime a nossa insatisfação. Não, votar em branco não faz a diferença.
Peço desculpa pelo discurso, muito impróprio da minha pessoa, mas hoje senti necessidade dele.
Bons filmes e boas leituras.
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa nos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o que é o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguer, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e enche o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
Bertolt Brecht
É difícil deixar de se ser analfabeto político. Ainda mais difícil quando não encaramos a política de uma forma quase "clubística" como muitos encaram. Infelizmente, para mim não é simples, não é a côr "A" ou "B" ou "C", não tenho uma "equipa do coração" da qual sei o palmarés de cor. Torço pelo Sporting porque "sou do Sporting", torço pela Ferrari porque "sou da Ferrari" mas não consigo torcer por um determinado partido porque "é o meu".
Decidi, durante muitos anos, que seria analfabeta. Por um lado estava cansada de ouvir as mentiras mais básicas e fáceis de "apanhar", por outro, dá menos trabalho ir à urna e votar em branco "lavando daí as minhas mãos".
Hoje já não pode ser... Hoje já não se vive o tempo das vacas gordas em que o que quer que os outros decidam por nós não vai fazer grande diferença porque mesmo que sejamos enganados, acaba por haver suficiente para todos: para os que trabalham e para os que ficam em casa, para os que estudam e para os que desistem, para os honestos e para os corruptos. Hoje é diferente.
Por isso apelo, pela primeira vez na minha vida, ao voto útil.
Sim, é melhor votar em branco que não votar. Sim, votar em branco exprime a nossa insatisfação. Não, votar em branco não faz a diferença.
Peço desculpa pelo discurso, muito impróprio da minha pessoa, mas hoje senti necessidade dele.
Bons filmes e boas leituras.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Às vezes...
Às vezes tenho ideias, felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despejam...
Depois de escrever, leio...
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
Álvaro de Campos, 1934
Era só isto... É 6ª feira!
Bons filmes e boas leituras!
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despejam...
Depois de escrever, leio...
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
Álvaro de Campos, 1934
Era só isto... É 6ª feira!
Bons filmes e boas leituras!
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Sid & Nancy revisited
Hoje foi dia de relembrar. Sid & Nancy foi o eleito e não faço ideia há quantos anos tinha visto, mas não me lembrava de praticamente nada! Não estou muito certa da acuidade histórica do filme (confesso que não me prestei a um grande trabalho de pesquisa), no entanto, trata-se de uma visão fria e pouco romantizada, na minha opinião, da dependência de drogas mais do que da história de um casal que não há quem não conheça.
Voltei também a relembrar porque considero Gary Oldman um dos melhores actores de todos os tempos... Quem vir o filme e conseguir reconhecer nele um actor em início de carreira, que se acuse! Absolutamente brilhante!
Fun facts:
Tim Roth recusou o papel de Johnny Rotten por considerar que a história ainda era muito recente na altura que o filme foi feito.
Gary Oldman foi hospitalizado na sequência das enormes restrições a que se impôs para perder peso para interpretar Sid Vicious.
A corrente com cadeado usada no filme é "a original" tendo sido emprestada pela mãe de Sid para as filmagens.
Já agora, só para terminar, deixo também uma imagem do casal original... Opinião pessoal: o Sid melhorou muito no filme e a Nancy piorou bastante! Pronto, pronto, estou a brincar! Cá estão eles:
Voltei também a relembrar porque considero Gary Oldman um dos melhores actores de todos os tempos... Quem vir o filme e conseguir reconhecer nele um actor em início de carreira, que se acuse! Absolutamente brilhante!
Fun facts:
Tim Roth recusou o papel de Johnny Rotten por considerar que a história ainda era muito recente na altura que o filme foi feito.
Gary Oldman foi hospitalizado na sequência das enormes restrições a que se impôs para perder peso para interpretar Sid Vicious.
A corrente com cadeado usada no filme é "a original" tendo sido emprestada pela mãe de Sid para as filmagens.
Já agora, só para terminar, deixo também uma imagem do casal original... Opinião pessoal: o Sid melhorou muito no filme e a Nancy piorou bastante! Pronto, pronto, estou a brincar! Cá estão eles:
Love Kills
Bons filmes e boas leituras!
O Livro de Duarte Barbosa
Cá está ele! Recomendado por um amigo e já iniciado, se bem que com pouco tempo pelo que me fiquei apenas pelo prefácio, O Livro de Duarte Barbosa promete!
Calço uns sapatos com quase meio milénio e lá vou eu "descobrir". Estou verdadeiramente excitada com esta leitura muito diferente da habitual!
História nunca foi o meu forte, mas há que dar a mão à palmatória neste caso... Hoje em dia, semelhante experiência só pode acontecer no espaço e no fundo do oceano... Já imaginaram quando havia terra por descobrir ou que pouco tinha sido explorada? E ver tudo pela primeira vez, sem ter visto imagens na televisão ou ter encontrado guias na internet? Pois é essa a experiência em que pretendo embarcar!
Bons filmes e boas leituras!
Calço uns sapatos com quase meio milénio e lá vou eu "descobrir". Estou verdadeiramente excitada com esta leitura muito diferente da habitual!
História nunca foi o meu forte, mas há que dar a mão à palmatória neste caso... Hoje em dia, semelhante experiência só pode acontecer no espaço e no fundo do oceano... Já imaginaram quando havia terra por descobrir ou que pouco tinha sido explorada? E ver tudo pela primeira vez, sem ter visto imagens na televisão ou ter encontrado guias na internet? Pois é essa a experiência em que pretendo embarcar!
Bons filmes e boas leituras!
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Long Live Ian Curtis
Suicidou-se há 31 anos, com apenas 23. Enorme perda.
"When routine bites hard,
And ambitions are low,
And resentment rides high,
But emotions won't grow,
And we're changing our ways,
Taking different roads.
Then love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side.
Is my timing that flawed?
Our respect runs so dry.
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives.
But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
You cry out in your sleep,
All my failings exposed.
And there's a taste in my mouth,
As desperation takes hold.
Just that something so good
Just can't function no more.
But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again."
"When routine bites hard,
And ambitions are low,
And resentment rides high,
But emotions won't grow,
And we're changing our ways,
Taking different roads.
Then love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side.
Is my timing that flawed?
Our respect runs so dry.
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives.
But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
You cry out in your sleep,
All my failings exposed.
And there's a taste in my mouth,
As desperation takes hold.
Just that something so good
Just can't function no more.
But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again."
Leituras divertidas.....
Apesar de ter um livro em fila de espera e um a "chegar" hoje para começar já, vai ter de haver tempo para uma leitura extra muito interessante... Ou não.... Provavelmente não... Definitivamente não.... Mas pronto, o que tem de ser tem muita força! Vou então partilhar com vocês os links para esta maravilhosa leitura que eu vou fazer e que todos deveríamos fazer nos próximos dias (vou deixar apenas os "grandes", não me interpretem mal, mas para me estar chatear com os outros, votava em branco e tinha menos trabalho):
Programa Eleitoral PS
Programa Eleitoral PSD
Programa Eleitoral CDS/PP
Programa Eleitoral BE
Programa Eleitoral CDU
Sim, sim... É verdade que os há sem versão em pdf... Aguentem! Ou procurem melhor, eu não encontrei... Enfim...
Bons filmes e boas leituras!
terça-feira, 17 de maio de 2011
Eyes Wide Shut
Depois de uns dias sem tempo para um filmezinho que fosse, hoje foi a vez de Eyes Wide Shut (ainda dentro dos que estavam programados para a maratona Kubrick).
Começava eu a ficar convencida de que o senhor até conseguia fazer uns filmes "normais" e eis que chegamos a meio do filme! Afinal parece que não... E eu até estava a pensar "Bem, este não é brilhante de uma maneira tão excêntrica mas não deixa de ter os jogos de cores, sons e leitura da mente humana que caracterizam todos os que já vi..." quando começa finalmente a aquecer!
De um momento para outro, a história de um casal-quase-perfeito-quase-em-crise transforma-se numa sucessão de acontecimentos surreais, confusos e desesperantes.
Gostei bastante e não é dizer pouco quando o actor principal é o Tom Cruise, do qual não sou, nem de longe, fã...
Recomendo vivamente!
Bons filmes e boas leituras!
Começava eu a ficar convencida de que o senhor até conseguia fazer uns filmes "normais" e eis que chegamos a meio do filme! Afinal parece que não... E eu até estava a pensar "Bem, este não é brilhante de uma maneira tão excêntrica mas não deixa de ter os jogos de cores, sons e leitura da mente humana que caracterizam todos os que já vi..." quando começa finalmente a aquecer!
De um momento para outro, a história de um casal-quase-perfeito-quase-em-crise transforma-se numa sucessão de acontecimentos surreais, confusos e desesperantes.
Gostei bastante e não é dizer pouco quando o actor principal é o Tom Cruise, do qual não sou, nem de longe, fã...
Recomendo vivamente!
Bons filmes e boas leituras!
segunda-feira, 16 de maio de 2011
O Cão de Sócrates
Terminei, no fim de semana, O Cão de Sócrates, e devo dizer que dá para umas boas gargalhadas... Isto é, até se pensar que na origem das piadas feitas está a triste realidade do nosso país... Mas como eu sou uma pessoa que não dispensa uma boa dose de humor, por mais negro que seja, adorei o tom sarcástico do "cão" e os seus relatos dos 6 anos que passou em S. Bento.
Como obra literária, não é nada de transcendente (não me interpretem mal, também não é mau!) mas é um bom resumo de muitas coisas que aqueles de nós com memória mais curta podem estar a começar a esquecer... Não só relembramos, como o fazemos de maneira a não ficarmos a espumar (tanto) pela boca por causa da nota mais cómica associada...
Enfim, recomendo, especialmente agora que nos devemos fazer valer bem de todo o conhecimento passado que possuímos antes de ir às urnas escolher quem vai governar o país nos próximos anos!
Bons filmes e boas leituras!
Como obra literária, não é nada de transcendente (não me interpretem mal, também não é mau!) mas é um bom resumo de muitas coisas que aqueles de nós com memória mais curta podem estar a começar a esquecer... Não só relembramos, como o fazemos de maneira a não ficarmos a espumar (tanto) pela boca por causa da nota mais cómica associada...
Enfim, recomendo, especialmente agora que nos devemos fazer valer bem de todo o conhecimento passado que possuímos antes de ir às urnas escolher quem vai governar o país nos próximos anos!
Bons filmes e boas leituras!
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Azar....
E não é a propósito de ser 6ª feira 13, mas parece que falar bem do Cesário Verde dá azar... Logo quando resolvi baixar as armas e dedicar-lhe um post, assumindo que até tem o seu encanto, zás! Vai-se o blogger à vida e desaparece-me o post! Aparentemente estão a trabalhar para o trazer de volta... Veremos...
Até lá, vou jogar pelo seguro! Este senhor, pelo menos, nunca me deu problemas!
Magnificat
Álvaro de Campos
Bons filmes e boas leituras!
Até lá, vou jogar pelo seguro! Este senhor, pelo menos, nunca me deu problemas!
Magnificat
Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que dispertarei de estar accordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossivel de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossivel de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, quem tens lá no fundo?
É Esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma: será dia!
|
Álvaro de Campos
Bons filmes e boas leituras!
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Cesário Verde - um gosto adquirido
Ora cá estou eu, ainda sem novidades literárias ou cinematográficas, mas com um comunicado oficial:
Eu afinal até gosto um bocadinho do Cesário!
Está certo que foi dos poetas que menos gostei no secundário, soava-me sempre... hmmm... "pouco poético"! Um bocadinho como os Xutos e Pontapés usarem a palavra "fotocópias" na letra de uma música, simplesmente não soa bem! Com o tempo, como sou uma rapariga insistente e sempre me fez muita confusão não gostar de um autor que o meu professor considerava genial, fui lendo um bocadinho aqui, um bocadinho ali e à medida que o tempo foi passando fui "engolindo" cada vez melhor... É certo que um ou outro poema ainda me ficam atravessados na garganta, mas a maioria dos que leio, acho bastante interessantes e com uma sonoridade não "errada" (como antes pensava) mas sim diferente daquilo a que estou mais habituada. Deixo-vos com o nosso amigo Verde....
Contrariedades
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.
Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.
Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta na botica!
Mal ganha para sopas...
O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.
Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redação, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.
A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa
Vale um desdém solene.
Com raras exceções merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,
Soluça um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.
Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.
Receiam que o assinante ingênuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convêm, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.
Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.
A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exatos,
Os meus alexandrinos...
E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe umedece as casas,
E fina-se ao desprezo!
Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?
Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras
E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'
Bons filmes e boas leituras!
Eu afinal até gosto um bocadinho do Cesário!
Está certo que foi dos poetas que menos gostei no secundário, soava-me sempre... hmmm... "pouco poético"! Um bocadinho como os Xutos e Pontapés usarem a palavra "fotocópias" na letra de uma música, simplesmente não soa bem! Com o tempo, como sou uma rapariga insistente e sempre me fez muita confusão não gostar de um autor que o meu professor considerava genial, fui lendo um bocadinho aqui, um bocadinho ali e à medida que o tempo foi passando fui "engolindo" cada vez melhor... É certo que um ou outro poema ainda me ficam atravessados na garganta, mas a maioria dos que leio, acho bastante interessantes e com uma sonoridade não "errada" (como antes pensava) mas sim diferente daquilo a que estou mais habituada. Deixo-vos com o nosso amigo Verde....
Contrariedades
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.
Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.
Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta na botica!
Mal ganha para sopas...
O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.
Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redação, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.
A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa
Vale um desdém solene.
Com raras exceções merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,
Soluça um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.
Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.
Receiam que o assinante ingênuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convêm, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.
Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.
A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exatos,
Os meus alexandrinos...
E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe umedece as casas,
E fina-se ao desprezo!
Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?
Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras
E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'
Bons filmes e boas leituras!
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Orpheu
Uma passagem rápida, já que não tem havido tempo para filmes e ainda não terminei o livro que estou a ler de momento (O Cão de Sócrates), só para cultivar um bocadinho... Cruzei-me com este texto, que gostei bastante, pelo que decidi vir partilhar convosco... Já que não faço a jardinagem em casa, pelo menos alguma coisa eu "cultivo"! Fica então um excerto:
"Orpheu
De mais a mais, o que o crítico deve distinguir, com curioso cuidado, é o confuso do complexo. Nem deve cair nesse erro crasso, que é vulgar naqueles que procuram seguir os clássicos, sem lhes terem compreendido assaz o espírito da Obra, que consiste em crer que o estilo simples é o melhor de todos, o que é certo, mas não reparando em que não há só um estilo simples porém vários; que a simplicidade não é uma, mas de diversas espécies.
Há, por certo, um modo simples de dizer as coisas; se essas coisas, porém, forem, de sua natureza, complexas, não hão-de ser ditas de tal maneira que uma simplicidade de expressão as torne simples, pois que, se são complexas, fazê-las parecer simples é exprimi-las mal. O espírito de um Dante ou o de um Shakespeare, porque têm herdado séculos de acumulações cristãs, têm outra complexidade que não o espírito de um Homero, ou mesmo de um Virgílio. O que o crítico sagaz exige de um Dante ou de um Shakespeare não é que escrevam na simplicidade de um Homero ou de um Virgílio, mas sim que escrevam exprimindo com a clareza que couber àquelas coisas que pensam.
A simplicidade, além de ser diversa consoante os indivíduos, comporta, fora isto, diversos aspectos absolutos. Uma coisa pode ser expressa simplesmente, pela razão que de sua natureza é simples; pode ser expressa simplesmente porque seja traduzida directamente como é sentida, sem que se procure ajustá-la a qualquer ideal de estética estranho à coisa sentida; e pode ser expressa simplesmente por ser sujeitada a um tal critério estético, a um critério estético que imponha a preocupação da simplicidade. [...]"
António Mora, 1915?
Ah... Pessoa logo pela manhã sabe ou não sabe bem?! E pronto, fica a "prendinha" e eu despeço-me...
Bons filmes e boas leituras!
"Orpheu
De mais a mais, o que o crítico deve distinguir, com curioso cuidado, é o confuso do complexo. Nem deve cair nesse erro crasso, que é vulgar naqueles que procuram seguir os clássicos, sem lhes terem compreendido assaz o espírito da Obra, que consiste em crer que o estilo simples é o melhor de todos, o que é certo, mas não reparando em que não há só um estilo simples porém vários; que a simplicidade não é uma, mas de diversas espécies.
Há, por certo, um modo simples de dizer as coisas; se essas coisas, porém, forem, de sua natureza, complexas, não hão-de ser ditas de tal maneira que uma simplicidade de expressão as torne simples, pois que, se são complexas, fazê-las parecer simples é exprimi-las mal. O espírito de um Dante ou o de um Shakespeare, porque têm herdado séculos de acumulações cristãs, têm outra complexidade que não o espírito de um Homero, ou mesmo de um Virgílio. O que o crítico sagaz exige de um Dante ou de um Shakespeare não é que escrevam na simplicidade de um Homero ou de um Virgílio, mas sim que escrevam exprimindo com a clareza que couber àquelas coisas que pensam.
A simplicidade, além de ser diversa consoante os indivíduos, comporta, fora isto, diversos aspectos absolutos. Uma coisa pode ser expressa simplesmente, pela razão que de sua natureza é simples; pode ser expressa simplesmente porque seja traduzida directamente como é sentida, sem que se procure ajustá-la a qualquer ideal de estética estranho à coisa sentida; e pode ser expressa simplesmente por ser sujeitada a um tal critério estético, a um critério estético que imponha a preocupação da simplicidade. [...]"
António Mora, 1915?
Ah... Pessoa logo pela manhã sabe ou não sabe bem?! E pronto, fica a "prendinha" e eu despeço-me...
Bons filmes e boas leituras!
segunda-feira, 9 de maio de 2011
(Mini)Maratona Kubrick
Isto de vez em quando dá-me para ter vida social, portanto a maratona programada ficou reduzida a uma mini maratona! Mesmo assim, gostei imenso dos filmes que vi e, mais uma vez, nem sei como ainda não tinha vistos dois deles: o 2001: A Space Odyssey e o Dr. Strangelove. Vi também o Lolita e gostei muito, o "toque Kubrick" está lá (sem qualquer dúvida) mas menos evidente que nos outros dois.
Adoro a forma como são introduzidas sempre personagens que parecem "fora", não da história, mas do "clima", da média de personalidades das outras personagens... Fantástico! Estas personagens são normalmente dotadas de um humor que foge muito à situação em que estão inseridas e parecem sempre provocar algum constrangimento nos outros, assim como a pessoa que conta anedotas na sala de espera dos cuidados intensivos!
Mais uma vez, a banda sonora conjugada com a história e a imagem é absolutamente estonteante!
Não tendo conseguido ver todos os que estavam planeados, não ficam inseridos na maratona mas não deixaram de fazer parte dos planos, pelo que espero falar desses mais à frente!
Bons filmes e boas leituras!!!
Adoro a forma como são introduzidas sempre personagens que parecem "fora", não da história, mas do "clima", da média de personalidades das outras personagens... Fantástico! Estas personagens são normalmente dotadas de um humor que foge muito à situação em que estão inseridas e parecem sempre provocar algum constrangimento nos outros, assim como a pessoa que conta anedotas na sala de espera dos cuidados intensivos!
Mais uma vez, a banda sonora conjugada com a história e a imagem é absolutamente estonteante!
Não tendo conseguido ver todos os que estavam planeados, não ficam inseridos na maratona mas não deixaram de fazer parte dos planos, pelo que espero falar desses mais à frente!
Bons filmes e boas leituras!!!
sábado, 7 de maio de 2011
Dracula by Bram Stoker
Posso indignar-me??? Então aqui vai: eu não me lembrava do porquê, e assumi que era só pela escrita ser em diário, de não ter gostado mais do livro do que do filme quando o li pela primeira vez, há uns bons15-16 anos atrás... Agora já percebi... Devo ter recalcado o facto de, no livro, NÃO EXISTIR DE TODO a maravilhosa história de amor entre o Conde e a reencarnação da sua falecida amada... NÃO HÁ SEQUER uma falecida amada, tanto quanto se pode apurar!
Estava perfeitamente convencida que, se bem que muito mais em segundo plano que no filme, a história estava lá. É provável que a minha confusão se tenha devido ao facto do filme ser, tirando o pequeno pormenor de ter uma história "extra", uma excelente adaptação em tudo o resto. Com umas pequenas alterações nas personagens, poucas em termos de linha temporal da história e, como é incontornavel, supressão de algumas cenas, é ainda assim um retrato bastante fiel da história do livro, desde a decadência de Lucy até à perseguição do Conde.
Assim sendo, gosto muito do livro, é uma obra fantástica, mas em termos de história, continuo a preferir o filme! Como é natural tendo visto primeiro e lido depois, fiquei muito colada, mesmo tentanto imaginar ao máximo baseada nas descrições do livro, ao aspecto dos actores do filme. Ora sendo no livro a história de amor central protagonizada por Mina/Harker e no filme por Mina/Drácula temos Reeves vs Oldman.... Pffff =P
Portanto neste remake do Livro vs Filme, continua a sair vencedor........ Quem, quem?
É isso mesmo!
Neste momento decorre a maratona Kubrick... I'll BE BACK!
Estava perfeitamente convencida que, se bem que muito mais em segundo plano que no filme, a história estava lá. É provável que a minha confusão se tenha devido ao facto do filme ser, tirando o pequeno pormenor de ter uma história "extra", uma excelente adaptação em tudo o resto. Com umas pequenas alterações nas personagens, poucas em termos de linha temporal da história e, como é incontornavel, supressão de algumas cenas, é ainda assim um retrato bastante fiel da história do livro, desde a decadência de Lucy até à perseguição do Conde.
Assim sendo, gosto muito do livro, é uma obra fantástica, mas em termos de história, continuo a preferir o filme! Como é natural tendo visto primeiro e lido depois, fiquei muito colada, mesmo tentanto imaginar ao máximo baseada nas descrições do livro, ao aspecto dos actores do filme. Ora sendo no livro a história de amor central protagonizada por Mina/Harker e no filme por Mina/Drácula temos Reeves vs Oldman.... Pffff =P
Portanto neste remake do Livro vs Filme, continua a sair vencedor........ Quem, quem?
É isso mesmo!
Neste momento decorre a maratona Kubrick... I'll BE BACK!
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Pessoa - Contra Salazar
Uma pequena nota: não sabia que este livro existia e agora soube e quero-o MUITO! E JÁ!!! Vou ter de gastar dinheiro... Aiii a criseeee!!!!
Só um bocadinho, tão, tão à Pessoa:
Só um bocadinho, tão, tão à Pessoa:
COITADINHO DO TIRANINHO
Coitadinho
Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho,
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
E ninguém sabe porquê.
Não bebe vinho,
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
E ninguém sabe porquê.
Fernando Pessoa
Boas Leituras!
Bosque de Sombras
Bosque de Sombras é um thriller nem bom nem mau... Dois casais ingleses vão passar férias numa aldeia espanhola onde, numa área reclusa, encontram uma criança prisioneira em condições precárias. Ao tentar ajudar a criança, vêem-se perseguidos pelos habitantes da aldeia e envolvidos em confrontos violentos.
Uma história bastante aceitável se não parecesse que pegaram num filme de 4 horas e o cortaram para ficar com 1h30, pois constantemente são apresentados pequenos mistérios (nas relações entre os casais, na história da aldeia ou dos habitantes...) que não fazem sentido ser mencionados a não ser para serem posteriormente aprofundados/explicados, e não o são, dando a sensação que faltam "partes" no filme.
Em suma, cumpre a sua função de gerar algum stress, mas deixa muito por explicar na história. Poderia ser um filme interessante dentro do género mas não chega a ser.... Vê-se...
quarta-feira, 4 de maio de 2011
A Clockwork Orange
A Clockwork Orange é o exemplo de que quando se faz bem, original e inovador não interessa se foi feito no ano passado ou há quarenta anos atrás!
É com vergonha que digo que apenas agora vi este filme (que está na origem da maratona que farei no próximo fim de semana: Stanley Kubrick) uma vez que oiço falar dele desde que me lembro de existir!
Nem sei por onde pegar para falar porque de facto é um experiência única e só mesmo vendo é possível perceber o que digo. Posso dizer que é a história de um jovem delinquente que é preso e se oferece para ser alvo de um programa experimental que tem o objectivo de recuperar criminosos tornando-os passíveis de ser reinseridos na sociedade em poucos dias... Mas não estaria a dizer nada!
Tudo se conjuga neste filme de uma forma que é impossivel de exprimir, a caracterização, os cenários, a banda sonora... Enfim, quem nunca viu, terá mesmo de ver para ter a experiência em primeira mão, que é a única forma de "receber" este filme.
Maratona Gary Oldman (em curso até ver todos!)
@Jameson Empire Awards - Icon Award (27/03/2011)
Com a súbita vontade de me "cultivar cinematograficamente", veio também a vontade de ver todos os filmes do Gary Oldman que é, para mim, o melhor actor de sempre.
Apesar de ter uma lista bastante variada de actores preferidos, que inclui Anthony Hopkins, Robert De Niro, Johnny Depp, Edward Norton, entre alguns (mas não muitos) outros, para mim, Gary Oldman destaca-se. Ainda não vi nenhuma má interpretação (aliás, são sempre muito boas), mesmo tendo em conta que alguns filmes são bastante fraquinhos e que é um actor que não está minimamente "preso" a um tipo de papel, correndo personagens com as mais variadas personalidades e interpretando cada uma delas de forma igualmente genial! Um verdadeiro camaleão a transbordar de talento! As más línguas (=P) chamam-me groupie, mas acho que o que eu vejo está à vista de todos, talvez falte apenas ver alguns títulos menos conhecidos para ter a confirmação.
Nesta "maratona", que só terminará quando não houver nenhum filme que eu não tenha ainda visto fora os que tenho de rever porque não me lembro bem, tenho apanhado um pouco de tudo e é impossível "generalizar", por isso aqui fica a lista (por data de estreia decrescente):
Red Riding Hood (2011): Um filme muito fraquinho (apesar de ter potencial, este não foi aproveitado) cujos pontos negativos são a história, a má qualidade dos actores mais novos e o lobo que não mete medo nem a uma criancinha e os pontos positivos são os cenários directamente saídos de um conto de fadas e os actores mais velhos (GO incluído) que estão muito bem.
Rain Fall (2009): Pessoalmente, apanhei uma enorme seca com este. Quando assim é, não vale a pena alongar muito mais.
The Unborn (2009): Um terror bastante básico, não traz nada de novo e não é particularmente assustador... Dá para as pipocas...
The Dark Knight (2008): Começo por dizer que não acho piada nenhuma a filmes de super heróis. Ainda assim, ADOREI este filme, está simplesmente espectacular. Obrigatório! Desde a história ao elenco, um filme de topo!
Harry Potter and The Order of the Phoenix (2007): Incluído na maratona Harry Potter...
Harry Potter and The Goblet of Fire (2005): Idem...
Harry Potter and The Prisoner of Azkaban (2004): Idem...
Basquiat (1996): Gostei bastante. É a biografia do artista, focando-se no período entre ter sido "descoberto" e a sua morte. Um elenco interessante e boas interpretações. Excepto a Courtney Love, merece logo menos uma estrela no IMDb por ter a Courtney Love! :P
The Scarlet Letter (1995): Quando vi a classificação no IMDb, fiquei muito "de pé atrás" mas, apesar de não fazer exactamente o meu género de filme sendo um drama romântico, gostei. Percebi posteriormente que a classificação baixa deverá estar relacionado com o facto de ser um péssima adaptação da obra literária em que é baseada. Como nunca li, acho interessante. Grandes interpretações de GO e Demi Moore!
Murder in the First (1995): Já tinha visto e tinha gostado e revi e continuei a gostar. A história do criminoso que vai para Alcatraz por ter roubado $5 onde sofre o mais revoltante "tratamento" possível às mãos de um director violento e inflexível.
Immortal Beloved (1994): Este, oficialmente, adorei! Uma história de ficção com uma base real: as cartas de Beethoven dirigidas à sua "Immortal Beloved", que na realidade nunca se chegou a apurar quem seria. O filme gira em volta desta busca pela misteriosa mulher e as lembranças que várias candidatas têm de Beethoven e das suas relações com ele. Recomendo!
Léon (1994): Genial! Entrada directa para o meu "top". Ide já a correr ver!
Dracula (1992): Revi pela "n-ésima" vez. É o meu filme preferido. Nada a dizer. Nem sei como pode existir quem ainda não tenha visto.
Rosencratz & Guildenstren Are Dead (1990):Outra entrada directa para o meu top. Não consigo perceber porque é que este filme não é mais conhecido. É genial! A intermitência entre uma realidade muito suspeita e uma peça em que as personagens não percebem qual o seu papel... Incrível! Mais um que TEM de ser visto! MESMO!
Chattahoochee (1989): Vi ontem, também pela primeira vez. A história de um veterano da guerra da coreia que é internado numa instituição para doentes psiquiátricos após uma tentativa de suicídio e verificando que não existe nesta qualquer tipo de tratamento para os pacientes a não ser a humilhação e a violência, fazendo de tudo, com a ajuda da irmã, para expor a situação. Gostei bastante. Uma interpretação brilhante de GO.
Prick Up Your Ears (1987): A história da vida de Joe Orton, argumentista inglês da década de 60, focando a sua relação com o parceiro Kenneth (e as muitas relações extra-conjugais), bem como o desenvolvimento das suas personalidades ao longo dos anos que culmina de forma violenta. Gostei muito e recomendo!
E pronto, encontro-me neste ponto, ainda com muuuuiiitooos títulos em lista de espera tanto para ver pela primeira vez como para rever por já terem sido vistos há muito tempo. Uma maratona que se prolongará por um bom tempo... Felizmente!
terça-feira, 3 de maio de 2011
Nil by Mouth
Ora aqui está um filme que teve entrada directa no meu top de preferidos de sempre. Nil by Mouth não é um filme para acompanhar com pipocas nem para passar uma agradável tarde de Domingo, é preciso ter noção de que o estômago vai dar muitas voltas durante os 128 minutos que se seguem a carregar no "play".
Esta primeira e, infelizmente, única experiência de Gary Oldman como realizador e argumentista é um retrato (semi)autobiográfico da classe trabalhadora de Londres assolada pelos vícios e violência.
São duas horas de pubs escuros povoados por gente infeliz que desculpa a violência com o álcool, casas em que tudo se sabe e tudo se tenta esconder, famílias possuídas pelo rancor e destruídas pela violência doméstica e as muitas formas que cada personagem tem, como indivíduo, de lidar com os seus problemas, fantasmas e meio envolvente.
Desde os delírios alcoólicos Ray (Ray Winstone) até à capacidade de absorver, sem perder a calma mas com profunda preocupação, a realidade de um filho toxicodependente e uma irmã vítima de violência doméstica de Janet (Laila Morse), tudo nos obriga a não tirar os olhos do ecrã mas com a constante sensação de querer fugir.
A forma como as cenas são filmadas e o som têm também um papel muito importante nas sensações que experimentamos ao ver o filme, uma vez que nos deixam com a constante sensação de estarmos inseridos no ambiente, como espectador, é certo, mas demasiado perto de uma realidade à qual preferimos "virar a cara" a maior parte do tempo.
Sem morais da história, sem explicações, sem culpabilizações externas pelas situações em que as personagens se encontram, sem justificações e como é óbvio e real, sem "happily ever after".
Em suma, um muito pouco conhecido "must see", com uma linguagem imprópria para sensíveis e uma história (ou um capítulo de muitas histórias) sem príncipes encantados nem fadas madrinhas, só realidade crua e visceral. Recomendo vivamente!
Vincent & Theo
Já não sei a que propósito me "cruzei" com Vincent & Theo, mas ainda bem que aconteceu!
Retrata a história dos irmão Theodore e Vincent Van Gogh, o primeiro negociante de arte e o segundo, seu irmão mais velho, dispensa apresentações.
Gostei muito do filme, especialmente em "termos sensoriais", o som e a cor são muito marcantes e exprimem fielmente o que se pretende transmitir na história, na minha opinião.
Um desempenho brilhante de Tim Roth no papel de Vincent Van Gogh, conseguindo retratar todas as facetas emocionais do pintor de forma absolutamente convincente, desde a mais doce à mais desequilibrada.
Tratando-se de um filme de carácter biográfico, naturalmente conhecemos o final da história, mas não deixamos, por essa razão, de encarar com sofrimento, à medida que lhe vamos assistindo, a decadência e consequente morte dos irmãos Van Gogh.
Recomendo vivamente!
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Maratona Scorsese
Depois de Taxi Driver e a conselho de um amigo, veio uma maratona que deixa qualquer um satisfeito!
Estes seis filmes, devorados no espaço de dois dias, foram cerca de dez horas de entertenimento de grande qualidade...
Comecei com o The Departed, que para mim tem dois grandes defeitos: um dá pelo nome de Matt Damon e outro de Leonardo Di Caprio (não, não gosto, não acho que seja brilhante e muito menos o melhor actor da geração dele!), no entanto gostei bastante da história, da acção e, sobretudo, do final.
Seguiu-se o The Last Temptation of Christ, do qual também gostei bastante: uma versão alternativa de uma história contada há dois mil anos por muitos mas nunca, pelo menos oficialmente, por quem a terá vivido na primeira pessoa (assumindo que existiu). Nunca li o romance no qual o filme é baseado, no entanto fiquei bastante curiosa depois de ver a adaptação cinematográfica.
Para não perder o ritmo, seguiu-se o Raging Bull, que tem logo à partida, um trunfo na manga: a dupla De Niro / Pesci. Partindo logo com as expectativas elevadas, o filme não desilude minimamente. Excelentes interpretações, muito emotivas, de personagens cujo principal traço de personalidade é precisamente a dificuldade e lidar correctamente com as emoções ou mesmo compreendê-las. Retrata a ascenção e posterior decadência de um boxeur que encaixa totalmente no estereótipo que tantas vezes temos assistido em casos reais: personalidade violenta, mesmo fora dos ringues, controladora e descontrolada. Muito bom mesmo!
Atingido o meio da maratona, chegou Casino... E a este não resisto! Mais uma vez a dupla referida em Raging Bull e interpretando papéis que lhes assentam como uma luva! Pesci na pele do mafioso de baixo calibre com temperamento instável e De Niro tentando gerir um negócio de aparência polida mas com um pano de fundo corrupto. Sharon Stone também muito bem no papel de "trophy wife" inteligente e sofisticada mas que não consegue fugir a um passado de baixo nível, perdendo-se eventualmente no alcoolismo e abuso de drogas. A-D-O-R-E-I!
Chegando á recta final foi a vez de Gangs of New York, que apesar de ter também o "problema" Di Caprio, está muito bom... Não estando muito habituada a ouvir falar em história dos EUA, achei extremamente interessante a abordagem da época retratada (que, segundo investiguei, tem algumas bases de verdade).
Por fim foi a vez de Mean Streets. Mais uma interpretação fabulosa de De Niro, numa personagem quase "non-sense" que ao longo do filme todo, nunca consegui perceber se simpatizava, tinha pena, odiava ou temia... É criado um ambiente de grande stress, agravado pela descontracção ou abstracção intermitente de quem gera o problema, pelo grau de responsabilidade de quem tenta ajudar (fracassando) e de impaciência de quem pressiona. Gostei também MUITO!
E por hoje terá de ser tudo! Ficam prometidos ainda os posts sobre Vincent and Theo, Nil By Mouth, A Clockwork Orange e a Maratona Gary Oldman!
Estes seis filmes, devorados no espaço de dois dias, foram cerca de dez horas de entertenimento de grande qualidade...
Comecei com o The Departed, que para mim tem dois grandes defeitos: um dá pelo nome de Matt Damon e outro de Leonardo Di Caprio (não, não gosto, não acho que seja brilhante e muito menos o melhor actor da geração dele!), no entanto gostei bastante da história, da acção e, sobretudo, do final.
Seguiu-se o The Last Temptation of Christ, do qual também gostei bastante: uma versão alternativa de uma história contada há dois mil anos por muitos mas nunca, pelo menos oficialmente, por quem a terá vivido na primeira pessoa (assumindo que existiu). Nunca li o romance no qual o filme é baseado, no entanto fiquei bastante curiosa depois de ver a adaptação cinematográfica.
Para não perder o ritmo, seguiu-se o Raging Bull, que tem logo à partida, um trunfo na manga: a dupla De Niro / Pesci. Partindo logo com as expectativas elevadas, o filme não desilude minimamente. Excelentes interpretações, muito emotivas, de personagens cujo principal traço de personalidade é precisamente a dificuldade e lidar correctamente com as emoções ou mesmo compreendê-las. Retrata a ascenção e posterior decadência de um boxeur que encaixa totalmente no estereótipo que tantas vezes temos assistido em casos reais: personalidade violenta, mesmo fora dos ringues, controladora e descontrolada. Muito bom mesmo!
Atingido o meio da maratona, chegou Casino... E a este não resisto! Mais uma vez a dupla referida em Raging Bull e interpretando papéis que lhes assentam como uma luva! Pesci na pele do mafioso de baixo calibre com temperamento instável e De Niro tentando gerir um negócio de aparência polida mas com um pano de fundo corrupto. Sharon Stone também muito bem no papel de "trophy wife" inteligente e sofisticada mas que não consegue fugir a um passado de baixo nível, perdendo-se eventualmente no alcoolismo e abuso de drogas. A-D-O-R-E-I!
Chegando á recta final foi a vez de Gangs of New York, que apesar de ter também o "problema" Di Caprio, está muito bom... Não estando muito habituada a ouvir falar em história dos EUA, achei extremamente interessante a abordagem da época retratada (que, segundo investiguei, tem algumas bases de verdade).
Por fim foi a vez de Mean Streets. Mais uma interpretação fabulosa de De Niro, numa personagem quase "non-sense" que ao longo do filme todo, nunca consegui perceber se simpatizava, tinha pena, odiava ou temia... É criado um ambiente de grande stress, agravado pela descontracção ou abstracção intermitente de quem gera o problema, pelo grau de responsabilidade de quem tenta ajudar (fracassando) e de impaciência de quem pressiona. Gostei também MUITO!
E por hoje terá de ser tudo! Ficam prometidos ainda os posts sobre Vincent and Theo, Nil By Mouth, A Clockwork Orange e a Maratona Gary Oldman!
O Senhor dos Anéis
Mais uma saga que revi nas últimas semanas, e mais uma adaptação para o cinema que não faz justiça ao livro.
Peca em muitas das mesmas situações que o Harry Potter, trazendo para primeiro plano personagens que pouco aparecem e retirando totalmente pedaços muito interessantes da história, tornando-a incrivelmente mais pobre nos filmes.
Não deixam, no entanto, de ser filmes muito agradáveis e emocionantes, bons para passar uma tarde a vibrar em frente à televisão. Brilhante em termos de efeitos especiais e caracterização, com paisagens estonteantes e ambientes dignos dos que se imaginam ao ler os livros.
Resumindo, são uma desilusão para quem leu, sem dúvida, mas vale a pena ver de qualquer forma, pois em poucos filmes se vêem ambientes imaginários tão bem recriados no ecrã.
Harry Potter ("O" vício)
(Nota: A escolha da imagem é pura coincidência. :P)
Ora aqui está uma saga que me deixa muito dividida... É uma PÉSSIMA adaptação, deixa frequentemente para segundo plano personagens e acontecimentos fundamentais, dando-lhes mais tarde a importância que deveria ter sido criada ao longo da história sem que se perceba porquê. Ficam também muitos espaços por preencher na história que, quem não a conheça através dos livros, entenderá como algo que ficou esquecido ou por explicar, o que, na minha opinião, é um insulto à J. K. Rowling que parece não escrever uma palavra sem a pensar e repensar até à exaustão, nunca deixando uma única ponta solta em toda a história!
Por outro lado, o vício é grande, a empatia criada com os actores ao longo dos anos também, a curiosidade de ver como fica no ecrã aquilo que imaginamos quando lemos, ainda maior e, por mais que eu pareça uma velha a protestar o tempo todo contra as falhas dos filmes em relação aos livros, a verdade é que não lhes resisto! Vejo e revejo e anseio pelo próximo (que desta feita, será o último).
Mal ou bem adaptado, uma coisa é certa, os actores, tanto os adultos como as crianças (agora já não...), são fantásticos e adequam-se a 100% àquilo que é esperado das personagens. Há ainda uma particularidade que para mim foi especialmente interessante: a minha personagem preferida é o Sirius Black (com tatuagem a comprovar :P) e, naturalmente, assim que saíu o primeiro filme comecei a questionar-me quem representaria esta personagem quando chegasse a altura. Por outro lado, o meu actor preferido é o Gary Oldman (já estão a ver onde vou chegar XD) e como tal, ainda por cima cumprindo o requisito de ser inglês, estive o tempo todo a "fazer figas", embora sem nunca acreditar muito, uma vez que as idades não coincidiam... Então e o que é que sucede quando é anunciado, finalmente, o elenco d'O Prisioneiro de Azkaban??? PIMBA! O meu actor preferido a interpretar a minha personagem preferida! Acabou qualquer hipótese de imparcialidade da minha parte em relação a esta saga!
Em suma, revolto-me sempre, mas adoro, não posso esperar por Julho para que saia o último e recomendo vivamente!
Saga Twilight ou "mas que raio...?!"
Então, comecemos por aqui! Para o bem ou para o mal, foi o que me desencadeou o frenesim de ver filmes todos os dias.
Após grande insistência de uma amiga, resolvi dar uma hipótese e como não sou pessoa de deixar as coisas a meio, foi logo a saga toda...
Começou por ser bastante cómico mas rapidamente passou a ser apenas aborrecido... Nunca li os livros, nem tenciono fazê-lo, reconhecendo no entanto que os filmes podem ser uma má adaptação e que na verdade nunca vou ficar a saber se a história é ou não interessante. Azar (ou sorte?) o meu ter começado pelos filmes.
Nos filmes, são completamente destruídos dois dos tipos de monstros mais explorados pela ficção e mais temidos dos folclores de muitos países: os vampiros e os lobisomens. Temos vampiros que são incrivelmente belos (dentro do padrão morangos com açúcar, que infelizmente não é o meu, senão até podia ter gostado só pela vista) e brilham ao sol (HÃ?? Não é "hã", é BRILHAM!!!) e lobisomens que são nativos americanos com abdominais desenvolvidos que depois de transformados ficam com o aspecto de lobos gigantes fofinhos... É... Basicamente é isto... E depois andam na escola e há uma personagem feminina que existe apenas para estar apaixonada pelo vampiro (ora, se me irritaram as personagens femininas espectaculares mas com personalidades fracas do Tolstói, podem imaginar como me irrita esta que em cima disso, ainda é mesmo muito fraquinha, pelo menos no filme)...
E basicamente é isto.... Um grande "NO-NO", para mim... Recomendo vivamente que, se escaparam até agora, permaneçam na ignorância! Twilight? Naaa, para mim é mais lusco-fusco, 5-7 minutos, mas muito intensos!
AVISO....
Vem aí uma avalanche.... Como já tinha dito, descobri a minha veia cinéfila e vai daí que me tenho estado a empanturrar de filmes assim como quem vai morrer lá para o Verão e tem de ver tudo o aquilo que não se pode morrer sem ver... Vou tentar agrupar o mais possível as minhas maratonas, mas ainda assim, não vai ser fácil... Preparem-se para uma senhora seca, ou mudem já de página!
Quem te avisa, teu amigo é!
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Dinamizando (ou Subitamente Cinéfila)
Voltando à carga, e pouco tendo ainda passado das 200 páginas no Dracula, resolvi que este blog precisa de mais dinamismo! Assim sendo, porque nem só de livros vive uma pessoa e também porque ando numa fase de devoradora insaciável de filmes, vou passar a deixar um registo também destes!
Aproveito, já agora, para dizer que há séculos que não tinha pesadelos por causa de um filme, muito menos de um livro, coisa que aconteceu a noite passada por causa do Dracula! Assim de uma forma muito resumida, estou a adorar. A diferença mais marcante que estou a notar, até agora, entre o livro e o filme, é a ordem dos acontecimentos... Mas não vou revelar mais para já, porque já muito pouco me lembrava do livro e quero avançar mais antes de avaliar em profundidade.
Para começar com a minha "listinha" de filmes, vou só fazer uma passagem muito rápida pelo que vi ontem, pela primeira vez (*NÃO!!!! Ah, sim, sim!!*): Taxi Driver.
Como, provavelmente, já todos sabem, é brilhante! Adorei tudo! Os textos, a conjugação do som, a ansiedade causada por se ver constantemente a instabilidade da personagem principal, Travis (genialmente interpretada por Robert De Niro), mascarada por uma personalidade calma e simples sem nunca se conseguir perceber quando vai atingir o ponto de ruptura... Em suma, tudo se combina num resultado final que, ainda que com "partes" fortíssimas, continua a ser superior à soma destas! Um "Must Watch" que foi finalmente visto!
Em jeito de despedida, só um bocadinho do que me deu pesadelos...
"The air seems full of specks, floating and circling in the draught from the window, and the lights burn blue and dim. What am I to do? God shield me from harm this night! I shall hide this paper in my breast, where they shall find it when they come to lay me out. My dear mother gone! It is time that I go too. Goodbye, dear Arthur, if I should not survive this night. God keep you, dear, and God help me!"
Dracula, Chapter 11 (end)
E pronto, volto em breve! Boas leituras!
Aproveito, já agora, para dizer que há séculos que não tinha pesadelos por causa de um filme, muito menos de um livro, coisa que aconteceu a noite passada por causa do Dracula! Assim de uma forma muito resumida, estou a adorar. A diferença mais marcante que estou a notar, até agora, entre o livro e o filme, é a ordem dos acontecimentos... Mas não vou revelar mais para já, porque já muito pouco me lembrava do livro e quero avançar mais antes de avaliar em profundidade.
Para começar com a minha "listinha" de filmes, vou só fazer uma passagem muito rápida pelo que vi ontem, pela primeira vez (*NÃO!!!! Ah, sim, sim!!*): Taxi Driver.
Como, provavelmente, já todos sabem, é brilhante! Adorei tudo! Os textos, a conjugação do som, a ansiedade causada por se ver constantemente a instabilidade da personagem principal, Travis (genialmente interpretada por Robert De Niro), mascarada por uma personalidade calma e simples sem nunca se conseguir perceber quando vai atingir o ponto de ruptura... Em suma, tudo se combina num resultado final que, ainda que com "partes" fortíssimas, continua a ser superior à soma destas! Um "Must Watch" que foi finalmente visto!
Em jeito de despedida, só um bocadinho do que me deu pesadelos...
"The air seems full of specks, floating and circling in the draught from the window, and the lights burn blue and dim. What am I to do? God shield me from harm this night! I shall hide this paper in my breast, where they shall find it when they come to lay me out. My dear mother gone! It is time that I go too. Goodbye, dear Arthur, if I should not survive this night. God keep you, dear, and God help me!"
Dracula, Chapter 11 (end)
E pronto, volto em breve! Boas leituras!
domingo, 17 de abril de 2011
Um desassossego e uma segunda oportunidade....
Adivinhem lá quem voltou! Ah pois é... Maaaas sem grandes notícias...
O Livro do Desassossego está terminado e, como seria de esperar, é absolutamente brilhante. Revejo-me muitíssimo nesta obra, ou pelo menos revejo a minha "faceta mais sombria". Tanto a escrita como a expressão dos sentimentos, de uma forma crua, introspectiva e cínica (ou não), me deixaram agarrada a cada palavra, tendo marcado mais passagens neste livro que em qualquer outro que tenha lido.
Não o considero um livro de leitura fácil nem passível de ser lido independentemente do estado de espírito. A fixação com o desapego da vida real e valorização do imaginário/sonho é, sem dúvida, um "desassossego", principalmente quando a justificação para tal é apresentada de formas tão variadas, mascarada por uma escrita genial e com um misto paradoxal de cinismo e paixão/desespero.
É, na minha opinião, um livro difícil de descrever ou analisar, pelo que não me vou alongar mais, deixando apenas uma entusiástica recomendação de que o leiam.
Segue-se a segunda oportunidade a uma obra cuja minha primeira impressão não foi a mais positiva. No entanto, aprendi a lição com Os Irmãos Karamazov e não vou deixar que a minha opinião de pré-adolescente seja a minha opinião final da obra. Trata-se de Dracula de Bram Stoker, lido desta vez na sua versão original.
Deixo-vos um dos muitos excertos que gostei particularmente:
O Livro do Desassossego está terminado e, como seria de esperar, é absolutamente brilhante. Revejo-me muitíssimo nesta obra, ou pelo menos revejo a minha "faceta mais sombria". Tanto a escrita como a expressão dos sentimentos, de uma forma crua, introspectiva e cínica (ou não), me deixaram agarrada a cada palavra, tendo marcado mais passagens neste livro que em qualquer outro que tenha lido.
Não o considero um livro de leitura fácil nem passível de ser lido independentemente do estado de espírito. A fixação com o desapego da vida real e valorização do imaginário/sonho é, sem dúvida, um "desassossego", principalmente quando a justificação para tal é apresentada de formas tão variadas, mascarada por uma escrita genial e com um misto paradoxal de cinismo e paixão/desespero.
É, na minha opinião, um livro difícil de descrever ou analisar, pelo que não me vou alongar mais, deixando apenas uma entusiástica recomendação de que o leiam.
Segue-se a segunda oportunidade a uma obra cuja minha primeira impressão não foi a mais positiva. No entanto, aprendi a lição com Os Irmãos Karamazov e não vou deixar que a minha opinião de pré-adolescente seja a minha opinião final da obra. Trata-se de Dracula de Bram Stoker, lido desta vez na sua versão original.
Deixo-vos um dos muitos excertos que gostei particularmente:
"A vida prejudica a expressão da vida. Se eu tivesse um grande amor nunca o poderia contar.
Eu próprio não sei se este eu, que vos exponho, por estas coleantes páginas fora, realmente existe ou é apenas um conceito estético e falso que fiz de mim próprio. Sim, é assim. Vivo-me esteticamente em outro. Esculpi a minha vida como a uma estátua de matéria alheia ao meu ser. Às vezes não me reconheço, tão exterior me pus a mim, e tão de modo puramente artístico empreguei a minha consciência de mim próprio. Quem sou por detrás desta irrealidade? Não sei. Devo ser alguém. E se não busco viver, agir, sentir, é - crede-me bem - para não perturbar as linhas feitas da minha personalidade suposta. Quero ser tal qual quis ser e não sou. Se eu cedesse destruir-me-ia. Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não posso ser. Por isso me esculpi em calma e alheamento e me pus em estufa, longe dos ares frescos e das luzes francas - onde a minha artificialidade, flor absurda, floresça em afastada beleza."
Livro do Desassossego
Boa noite e boas leituras!
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