quarta-feira, 7 de março de 2012

Margarita e o Mestre

Acabei de terminar o romance Margarita e o Mestre de Mikhail Bulgakov e estou, como há muito não estava, praticamente sem palavras!


Vou ter de ir por partes... Começo pela história.
O romance tem o arranque mais banal possível... Em moscovo, dois escritores têm uma conversa medianamente filosófica enquanto bebem uma limonada. São posteriormente abordados por outro homem, alegadamente estrangeiro, e nesta altura tudo começa a assumir contornos mais estranhos. Com a adição de mais alguns estranhos participantes, a história rapidamente se preenche de situações non-sense que, mais tarde, se revelarão sobrenaturais. Oscilando entre a história real, partes da história que não é possível (na altura que acontecem) definir se se tratam de realidade ou sonhos e ainda narrativas que remontam ao tempo de Pôncio Pilatos, tanto como parte do romance de um outro escritor (que se junta posteriormente à história) como como vivências na primeira pessoa do tal "estrangeiro", o fio de ligação entre os acontecimentos vai-se revelando, culminando, depois de muitas desventuras sobrenaturais, na revelação de toda a "realidade" das personagens e das situações. Temos ainda a encerrar, uma visão dos locais e dos intervenientes da malfadada história, alguns anos mais tarde, onde percebemos que a normalidade regressa, mesmo após as situações mais incríveis, e apesar de algumas cicatrizes estarem ainda por sarar completamente.
As personagens são todas meticulosamente trabalhadas e cheias de simbologias cuja interpretação, para meu grande desgosto, me transcende em grande parte, apesar de conseguir discernir aqui e ali algumas conotações e de perceber claramente que nada do que é descrito é incluido ao acaso.
Desde o poeta levado à loucura pela incoerência das suas vivências, ao estrangeiro/mágico/hiptnotizador demoníaco e respectiva comitiva que inclui um manhoso e untuoso gato que gosta de vodka e cogumelos de conserva (que come de garfo), ao romancista que incinerou a sua obra prima e perdeu o juízo, à sua respeitável amada que faz um pacto pela sua salvação, nunca se nos apaga a curiosidade de, cada vez que um novo nome surge na história, saber que surpresas nos reserva.
Fundamental é ainda a narrativa. O autor fala-nos como alguém que nos tenta impressionar contando-nos uma história que muitas vezes parece ter presenciado e muitas outras ter ouvido contar já depois de ter sido contada e "acrescentada" muitas vezes. Tenta, como sempre tenta quem conta algo implausível, fazer-nos a todo o custo acreditar na sua narrativa, usando uma linguagem muito informal que por vezes roça quase o infantil (tornando assim algumas passagens menos assustadoras do que poderiam ser), alternando, em alturas específicas, para uma linguagem bem mais elaborada e polida.
Em suma, foi um livro que fui buscar ao caixote em que estava arrumado por ter decidido controlar-me um pouco a comprar livros com tantos ainda por ler em casa mas dificilmente poderia ter feito uma escolha melhor numa compra planeada. Sem dúvida, um dos melhores, mais emocionantes e mais fascinantes livros que li nos últimos tempos por todas as razões. Recomendo vivamente.

Bons filmes e boas leituras!

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