terça-feira, 20 de março de 2012

Nenhum mortal no mundo satisfeito

Nenhum mortal no mundo satisfeito
Com sua Sorte está, nunca é contente,
Pois de mil desatinos enche a mente
Sem que possa gozar um bem perfeito.

O soldado deseja o canto estreito
Da cela do ermitão, com ânsia ardente:
Este, da guerra, o estrépito fremente
Deseja, sem razão, ao ócio afeito.

O rico, redobrados bens deseja;
O pobre, de quimeras se sustenta;
No coração humano reina a Inveja.

Pobre, rico, fidalgo se alimenta
De insaciáveis desejos que lhe peja
Sua Sorte fatal, que os não contenta.

Francisco Joaquim Bingre, Sonetos

Sou obrigada a discordar... Estou certa, mas assim mesmo de certeza absoluta, que se hoje ganhasse o euromilhões a minha sorte me contentava... Pelo menos durante uns tempos!
Agora a sério, gostei do poema porque é algo que refiro muitas vezes tanto a quem se queixa de ter azar, como a quem critica os que se queixam de coisas que parecem tão pequenas como se de grandes tragédias se tratassem. A relatividade da sorte é inegável, fascinante, revoltante... Fazem-se todos os dias milhares de comentários sobre esta questão, sobre como o adolescente mimado se tentou suicidar porque os pais se enganaram na cor do iPhone e como as vítimas das cheias na América do Sul celebram terem conservado a sua saúde num churrasco improvisado com a água até à cintura! Nas redes sociais, nos sites de entretenimento, nos media em geral, este é um tema que serve para enxovalhar uns e dignificar outros segundo padrões admitidos pela maioria... Eu tenho os meus próprios conceitos de sorte ou falta dela, eu também julgo os outros segundo os meus conceitos... Mas quando são outros a julgar, pego na minha moral toda e digo: "a sorte é relativa!".

Bons filmes e boas leituras!

Sem comentários:

Enviar um comentário